Dez Anos do Ápice de Sufjan Stevens

“Illinois” é grande marco em uma carreira só de pontos altos

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O lançamento de um só disco moveu Sufjan Stevens da categoria de “nome de destaque no cenário alternativo” para “um dos compositores norte-americanos mais celebrados de sua geração”. Isso foi há exatos dez anos, quando saiu seu quinto álbum, Illinois – ou Come On! Feel the Illinoise!, como ostenta sua capa.

Trata-se de uma obra de 22 faixas, entre canções e interlúdios, que se estendem por uma hora e treze minutos em diversas variações de clima para construir uma narrativa que mistura passado e fantasia do ponto de vista do imaginário do artista e suas próprias experiências. Nessa realidade, Sufjan é narrador e protagonista de sua própria poesia.

Quem conheceu o músico recentemente, por causa de seu devidamente elogiado Carrie & Lowell, pode até se espantar com o nível “épico” dos arranjos e da orquestração das faixas de Illinois. Pois quando o disco saiu, em 3 de julho de 2005, a surpresa não foi diferente, já que a obra maximizava muito do que era conhecido por seu álbum anterior, Seven Swans (2004), ainda que tentasse de certa forma repetir a forma narrativa de Michigan (2003), por se tratar de histórias de uma só terra.

Ao contrário do que fez no disco sobre o estado em que nasceu, o músico criou uma coletânea de histórias e sonoridades que remetem aos Estados Unidos como um todo – e o lançamento na véspera do 4 de julho, a mais estadunidense das datas, e em um momento em que o país começava a se entender como nação pós-11 de setembro só reforça esse caráter. Você não precisa ter morado na terra do Tio Sam para reconhecer as estrelas e listras vermelhas que estampam as entrelinhas dessas faixas.

Stevens criou um universo tão erudito quanto popular, pegando sonoridades tradicionalmente folclóricas e combinando-as com a liberdade criativa do novo milênio – os muitos timbres e o côro em faixas como a que carrega o nome expandido do disco e The Tallest Man, the Broadest Shoulders vem como os melhores exemplos disso -, que permitia também faixas que rumam a lados totalmente diferentes, tendo pouquíssimos elementos junto às vozes.

Essas mais mínimas, como John Wayne Gacy, Jr. e Casimir Pulanski Day, são algumas das que trazem relatos mais objetivos em suas letras e, não por acaso, são também as mais emocionais – a primeira é sobre um famoso serial killer e a segunda conta a história de uma enfermidade do ponto de vista ingênuo de um adolescente apaixonado. A fé, tema recorrente na obra do músico, está presente em diversos momentos do disco, o que reforça a coesão desse com sua discografia como um todo.

Seu álbum seguinte, The Age of Adz, viria apenas cinco anos depois e traria um aspecto eletrônico inédito em sua obra, confirmando que a identidade artística de Sufjan Stevens reside em parte em sua liberdade de criar como achar melhor. Ele pode citar OVNIs e zumbis ao longo de Illinois e isso não chega a ser estranho. Os títulos das músicas carregam também um senso de humor que contrasta com a seriedade de alguns dos temas presentes na obra, algo que também denota a inquietude do artista (afinal, não é qualquer um que conseguiria batizar uma faixa de – prepare-se – The Black Hawk War, or, How to Demolish an Entire Civilization and Still Feel Good About Yourself in the Morning, or, We Apologize for the Inconvenience but You’re Going to Have to Leave Now, or, “I Have Fought the Big Knives and Will Continue to Fight Them Until They Are Off Our Lands!”).

O que ficou evidente, seja na época ou hoje, é a capacidade de Sufjan Stevens de fazer músicas belíssimas que durarão ainda muitas outras décadas, quiçá gerações. Mesmo sintetizando um sentimento nacionalista, saber fugir de rótulos combinando tantos timbres e estéticas, ou contar histórias tão particulares em ótimas letras, seu maior mérito continua sendo o valor artístico que suas criações tem por si só. Nesse aspecto, Illinois é o ápice de uma carreira marcada por pontos (muito) altos.

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MARCADORES: Aniversário

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.