A Volta do Emo: Por Que Agora?

O Indie Rock é um dos motivos pelo qual o estilo volta agora com maior aceitação dos ouvintes

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Fotos: Touché Amore (foto por Nicole C. Kibert)

E se pudéssemos prever os movimentos da popularidade e estética no mundo da música? Esse foi o principal mote do nosso artigo de ontem, em que comparamos a ascensão e queda de Estilos Musicais a movimentos de um pêndulo. Resumidamente, as conclusões tiradas ali foram que 1) quedas (seja de artistas ou movimentos) são inevitáveis e 2) a “ressurreição” de um gênero, assim como o germinar de uma semente, depende das condições ideais para que isso aconteça.

Nos últimos dois ou três anos, um gênero que começou a “germinar” novamente foi o Emo. Mais que somente constatar isso ou enumerar bandas “que você tem que conhecer”, vale a pena vasculhar mais o assunto, ir mais ao fundo e descobrir o porquê do estilo estar de volta e, talvez, o mais importante, por que isso está acontecendo agora.

contamos aqui a história do estilo, desde as suas raízes do Hardcore de Washington no anos 80 (o Emocore), passando pela reinvenção noventista e ainda pela re-reinvenção Pop nos anos 2000 (quando os preconceitos com o estilo aumentaram exponencialmente), portanto, não voltaremos ao seu histórico. A verdade é que Emo, até a chegada dos anos 2000, nunca teve um apelo muito popular, nem mesmo quando se tornou uma espécie de fenômeno nos anos 90, em que chegou às massas, mas nunca com apelo mainstream. Ainda que tenha se espalhado para muito além de Washington, o estilo sempre sobreviveu mesmo em seu nicho.

A chegada à popularidade nos anos 2000 trouxe, de certa forma, uma atenção a uma musicalidade que não necessariamente refletia o que gênero tinha sido até ali. Motivado pelo apelo Pop, parecia que o estilo tinha gerado ali um subgênero ou até mesmo algo que poderia receber outro nome, até porque na época isso gerou um movimento social que não guardava em nada as raízes do Emo.

Verdade seja dita, a hype gerada na época acabou gerar uma série de preconceitos, mal entendidos e um mal estar que acabou por afastar muita gente do estilo (e atrair tantos outros) por questões estéticas e comportamentais, que pareciam estar mais ligadas à identidade (às vezes forçosa) daquele grupo do que com a cena em si.

Reforçando o que foi dito naquele artigo, mesmo quando uma cena “some” do mainstream, sua produção não cessa. Bandas que estavam na ativa (provavelmente) vão continuar produzindo e novos grupos vão surgir. O Emo é um ótimo exemplo para como essa continuidade/renovação acontece e nesses 30 anos de existência, o estilo em nenhum momento deixou de revelar novos (e bons) nomes, mesmo aqueles são conhecidos somente pelos fãs mais devotos.

Voltando desta pequena divagação, ainda fica a pergunta, porque o estilo está voltando agora? O que faz com o que o “solo” esteja fértil?

São várias as razões e uma das que mais faz sentido (a meu ver) é a que foi dada pelo blog Brooklyn Vegan: a “culpa” é do Indie Rock. Calma, pois não é tão drástico quanto parece. O gênero é capaz de absorver as mais variadas características e de soar de tantas formas diferentes que, mesmo quando usa elementos de um estilo que há algum tempo era mal visto, ainda é capaz de soar como ele mesmo. Aqui caberia uma discussão que entraria em méritos de preconceitos e barreiras que os ouvintes criam para determinados gênero, mas vamos deixa-la de lado por ora e simplesmente assumir que Indie Rock suavizou diversas das características do Emo (principalmente daquele “de raiz”, que mantém semelhanças com o que era chamado de Indie na época) e facilitou para que o ouvinte fosse lentamente absorvendo aquilo.

Seja nas temáticas de (Attack on Memory, do Cloud Nothings) ou na estética (Celebration Rock, do Japandroids), já em 2012 se sentia alguma coisa do Emo se misturando ao Indie Rock “mainstream” e desde então pavimentando o caminho para que novas bandas fizessem o mesmo ou mesmo para que novos artistas pudessem surgir se inspirando no que de melhor aconteceu com o gênero há 20 anos e que aquilo não soasse tão esquisito ao ouvinte.

Essa mistura se dava de um jeito bem leve, talvez por que muitos desses artistas cresceram ouvindo clássicos de At The Drive-In, Rites of Spring, Embrace, Sunny Day Real Estate e tantas outras que são considerados os clássicos do estilo e isso simplesmente acabou se tornando uma influência ou mesmo porque simplesmente sua gênese nos anos 90 não foi tão dispare assim e as semelhanças entre os estilos não seja tão grande afinal – elementos como letras cheias de juventude, guitarras rápidas e melodias pegajosas (geralmente usadas para descrever o Emo) não é exclusivo de nenhum dos estilos e muitas vezes são divididos pelos dois.

Ao mesmo tempo, é bom nunca esquecer que o estilo “cru” continuou em produção e naquele mesmo ano e ótimas obras de bandas como You Blew It! (com Grow Up, Dude), Title Fight (Floral Green e The Early November (In Currents) foram lançadas. É bom lembrar também que apesar hoje coexistirem as mais diversas vertentes e subgêneros do Emo (You Blew It! focado no que acontecia na Meio Oeste norte-americano e Touché Amore com um som mais ligado ao interior), o que mais está em evidência é a corrente que busca sua principal inspiração no que foi feito durante os anos 90 (o que, não à toa, também ocorre com o Indie Rock). E aqui vale dizer também que muitas das novas bandas Emo citam artistas Indies como Sebadoh, Nirvana, Guided by Voices e Sonic Youth como influências – uma troca que mais uma vez estabelece a semelhança entre os dois.

Naquele ano, o terreno começou a ter condições para que obras como Whenever, If Ever (do The World Is a Beautiful Place & I Am No Longer Afraid to Die), Pretty Good EP (Dads), Is Survived By (Touché Amore) e Travels (Defeater) surgissem em 2013 e que fossem ouvidas sem pegar o ouvinte ainda de guarda alta.

Para 2014, a ideia é a mesma a popularidade e número de lançamentos relevantes deve aumentar. São esperados para este ano obras de gente como Modern Baseball, Nai Harvest, La Dispute, Special Explosion, You Blew It (que já lançou seu Keep Doing What You Are Doing). Superando o asco criado em 2000 e voltando às suas raízes, o estilo pendula novamente rumo ao topo, talvez não chegue ao mesmo patamar de popularidade atingido na década passada, mas pode se igualar aos anos 90 no que diz respeito à importância para o desenvolvimento e continuação da cena.

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Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts