Cone Crew Diretoria e Kid Cudi – Hip Hop e Rap no Lollapalooza 2014

Festival é conhecido por poucas e memoráveis apresentações do gênero e neste ano não parece desfazer-se do histórico

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A grandeza de um festival como Lollapalooza permite que seu enfoque possa ser muito maior que somente um gênero, abrindo a possibilidade de participação de artistas dos mais variados estilos. Apesar desta abertura, no entanto, podemos notar duas posições bem definidas em relação ao público que o evento deseja trazer: fãs basicamente de Rock e suas vertentes contemporâneas (como Indie Rock e Indie Pop) e os de música Eletrônica. Isso se mostrou afirmativo pois basicamente os seus frequentadores transitavam entre os palcos Butantã (alternativo), Perry (eletrônico) e Cidade Jardim (principal), lugares que abraçavam as grandes atrações de suas últimas duas edições. Mas você que curte Hip Hop e Rap , como este que vos escreve, fica como?

Para quem não foi em 2012 e 2013, ou simplesmente não se lembra diante de tantas atrações – e shows que já passaram pelo país no período -, saiba que o festival é conhecido por trazer poucas e boas atrações do gênero. Por exemplo, na primeira edição, tivemos além do rapper Tinie Tempah, figura não tão relevante com seus raps um pouco mais Pop e mainstream, o maior nome do Rap nacional, Racionais MC’s. Se em um primeiro momento se mostrou estranha a seleção de um grupo tão restrito e lacônico quanto a trupe de Mano Brown, seu concerto não deixaria dúvidas que, apesar de uma escala para fechar o festival no palco Perry, ou seja, papel importantíssimo em um Lollapalooza brasileiro (mas norte-americano em sua raiz), o grupo não deixaria a sua identidade ser manchada. Contestado por grande parte de seus fãs que se concentram sobretudo nos bairros periféricos de São Paulo e do Brasil (letras e densidade de batidas representam muito bem a atmosfera sofrida destas regiões), Racionais atrasaria o seu show propositalmente para que, assim que as luzes se apagassem no show de Arctic Monkeys, o público pudesse vê-los. Ao mesmo tempo, abortaria as transmissões ao vivo que ocorriam ao longo dos dois dias de festival. Logo em sua primeira edição, o circo de Perry teria um concerto histórico e marginal, o que certamente os fãs de Hip Hop adoraram.

No ano passado, em um edição maior com três dias de concertos, pudemos ter outras apresentações que, mesmo pontuais em quantidade, se mostraram excelentes. Primeiramente, Nas, que disputou espaço com um concorrido show do Queens of the Stone Age, deixaria todos os apreciadores do Hip Hop da antiga escola de boca aberta. Sua importância para o gênero é singular, sendo o seu disco de estreia, que completará 20 anos em breve, Illmatic, um dos grandes álbuns de todos os tempos do estilo. Participações posteriores com Damian Marley, o fariam se tornar ainda mais popular ao criar uma mistura muito bem-vinda entre Rap e Reggae. Outro que fez um show muito apreciado, Criolo, dispensa comentários e a continuação de exibições instrumentadas e orquestradas a partir de Nó na Orelha, sua obra-prima até o momento, deixaram todo o público do festival amando um pouco mais SP. Para finalizar, um dos maiores nomes do Hip Hop, Rock, Psicodelia, Hardcore e Ragga do Brasil, Planet Hemp faria uma exibição explosiva, deixando grande parte dos presentes emocionada com um concerto que a maioria tinha contato pela primeira vez, apesar de ser uma banda nacional.

Ao longo dos últimos anos, vimos que se o Hip Hop não é o maior foco, a curadoria do festival sempre se preocupa em trazer nomes relevantes e atuais. Neste ano, podemos esperar interessantes concertos com Kid Cudi e o Cone Crew Diretoria. O primeiro não se encontra na melhor fase de sua carreira com um disco lançado no ano passado muito criticado por mim e pelo site, apesar de suas participações especiais. No entanto, o jovem rapper com um espetacular debut, sempre foi conhecido por apresentações disputadas e por uma ótima presença de palco, algo que certamente cativará o público ao fechar o Palco Perry no primeiro dia de festival. Sucessos como Day N’ Nite e Memories são esperadíssimos com possíveis cantorias sincronizadas com a audiência.

Cone Crew Diretoria, nome recente, mas não tão novo assim, da cena do Hip Hop nacional, sempre foi considerado um filho/cria do Planet Hemp. Esta consideração parte pela afinidade “cannabica” entre ambos. O nome cone tem a ver com o formato de um baseado e não o item de sinalização da CET e suas letras tem sempre uma atmosfera esfumaçada por referências à maconha, haxixe e afins, mas são facilmente assimiladas pelos ouvintes por faixas mais Pop como Rainha da Pista ou a ótima Sem a Planta, sucessos apreciados pelos seus fãs nos shows da turnê de Com os Neurônios Evoluindo. Polêmico na mesma medida, mas menos ativista político e crítico como seus pais também cariocas, Cone Crew se concentra no Hip Hop e realiza shows menos instrumentais e mais regados por batidas feitas/sincronizadas por um presente DJ. Com vários membros que transitam entre as faixas, a apresentação é conduzido por fumaça e deve trazer músicas de seu futuro lançamento, Bonde da Madrugada Part.1 , sendo apreciada no domingo no Palco Perry, que aos poucos vai se tornando um celeiro de batidas das mais variadas formas.

Se por acaso você não consegue deixar de ouvir Hip Hop, saiba que a nova edição do Lollapalooza traz mais uma vez nomes interessantes do gênero. Mesmo com somente uma exibição por dia, demonstra que o Palco Perry tem abertura suficiente para abordar o estilo que poderia muito bem ter mais espaço nos próximos anos. Tanto em 2012 como 2013, tivemos concertos memoráveis e inesquecíveis para o público. Será que neste ano teremos mais uma vez a alegria de contar com esta experiência? Pelas atrações podemos ter certeza que o fã da música negra não sairá desapontado.

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Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.