Resenhas

Graveola e o Lixo Polifônico – London Bridge

Mineiros fazem registro despretensioso, mas cheio de eletricidade

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Ano: 2015
Selo: Mais Um Discos
# Faixas: 5
Estilos: MPB, Indie Folk, Tropicália
Duração: 17:30
Nota: 3.5
Produção: Ygor Rajão e Chris Franck

As raízes mineiras da banda Graveola e o Lixo Polifônico confirmam uma produção intensa que se concretiza e se espalha na surdina – sim, é o famoso come-quieto da música de Minas, que passa anos alimentando ideias “clandestinamente”, tangenciando a possibilidade de pertencer a ouvidos massivos, e calculando riscos e ganhos de uma maior exposição.

Estamos falando de uma banda que completou dez anos, mas ainda não não colheu uma repercussão mais declarada do público brasileiro. Pertence, portanto, ao resistente e frutífero “independente nacional”. A chance de galgar posições de mais destaque dentre os zilhões de streaming oferecidos diariamente vem com o EP London Bridge, com quatro faixas e uma intro.

É o quinto registro em estúdio da Graveola, gravado em Londres em dois dias, ao vivo, durante uma turnê pela Europa. É mais documental do que artístico na pretensão, já que era uma vontade de registrar a nova formação da banda, que tinha acabado de somar Gabriel Bruce (bateria e voz), Luiza Brina (voz, percussão, cavaco e escaleta) e Ygor Rajão (trompete e escaleta) aos já veteranos Luiz Gabriel Lopes (voz e guitarra), José Luiz Braga (guitarra e cavaco) e Bruno de Oliveira (baixo e vocais).

Colocar a pretensão de lado e abraçar o EP como uma comemoração da nova fase da banda acabou sendo uma equação benéfica, musicalmente falando. As quatro faixas são largamente independentes entre si e evidenciam que muito se ouviu e muito se admirou da música brasileira, com ecos mais acentuados de Novos Baianos, Sérgio Sampaio, Clube da Esquina e Gal Costa.

Os arranjos caprichados despontam como o principal atrativo, especialmente em Somos Só e Esquadrão. Vida Sim e sua guitarra elétrica ressignificam a histórica performance de Caetano Veloso em É Proibido Proibir, em 1968. A ousadia já passou, mas revisitá-la qualitativamente é sempre um ganho para os ouvidos. Um contraponto mais moderno é a ensolarada Lembrete, que captura nuances percussivas e dobras vocais bastante conhecidas do cancioneiro dos anos 2000. Ganha pontos ao apostar na docilidade dos vocais de Luiza Brina.

A intensidade das referências vez ou outra ameaça coalhar a identidade da banda, mas a adesão de novos membros e o trânsito dos jovens músicos por outras sonoridades, como o Alt Folk americano, resultam em um interessante DNA de brasilidade internacionalizada. A música brasileira de exportação faz ainda mais sentido para a geração pós-80, que cresceu sob uma globalização imposta na rotina diária, via televisão, cinema, teatro e noticiário.

Entre heranças e baús revisitados com ênfase, Graveola e o Lixo Polifônico tira certos mofos viciosos da música brasileira e os substituindo por lustres mais contemporâneos. A aposta em um polimento próprio, com menos amarras com o passado, pode se tornar uma maneira de equilibrar a longevidade e a relevância. Enquanto isso, são admiráveis os passos calmos da trupe, que investe na paciência, como cantada em Lembrete: Saber que a hora certa logo vem, sem pressa deixa estar que não demora.

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