Resenhas

Caetano Veloso – Abraçaço

Assim como fez nas últimas quatro décadas, o mestre nos ensina a abrir os ouvidos para a música do nosso tempo

Loading

Ano: 2012
Selo: Universal
# Faixas: 11
Estilos: MPB, Rock Alternativo
Duração: 51'
Nota: 4.0

Há algumas décadas, a Música se funde e se confunde com Caetano Veloso. Afirmar sua relevância como compositor, intérprete, crítico e pensador chega a ser redundante para qualquer um que prestou atenção nesse período. Mesmo assim, minha impressão é que ele mesmo faz isso a cada lançamento.

Caetano é um catalisador de tendências e estilos em cada uma das épocas que atravessa, seja em micro ou larga escala. E a grande diferença dele para a maior parte dos músicos de gerações passadas que se metem a fazer parte da estética contemporânea é que o frescor em seu trabalho soa mais orgânico.

A antropogafia do Tropicalismo continua em alta em seu Abraçaço, no qual o músico digere a sonoridade utilizada fora e dentro de nosso vasto país. Mas, em Caetano, não há regionalismo, esteticismo, maneirismo ou mesmo cinismo: Tudo faz-se música naturalmente.

Aliás, são poucos os álbuns que conseguem reunir tantas diferenças dentro de si mesmo sem parecer esquizofrênico nem experimental. O artista sabe como explorar cada uma de suas composições, ou explorar cada uma de suas vontades de compor. Que seja uma bossa, um funk, uma distorção de guitarra ou um dedilhado – tudo é aceitável, porque nada é mal feito ou fora de lugar.

Os timbres de guitarra que tanto ouvimos nos mais diversos lançamentos dos últimos tempos estão desde a abertura com A Bossa Nova É Foda, que traz ainda diversas incursões no estilo que homenageia, enquanto a música seguinte, e que dá nome ao álbum, traz um solo distorcido de impressionar qualquer admirador do artifício, que volta a aparecer na ambientação minimizada de Estou Triste.

Em O Império da Lei, a guitarra acompanha o caráter regionalista de uma música essencialmente brasileirista , mesmo caso de Parabéns, ao mesmo passo que Funk Melódico brinca com a MPB consagrada ao fundí-la com o ritmo dos morros cariocas em um instrumental carregado e pouco eletrônico.

Caetano pode, Caetano sabe tanto que sabe ser a si mesmo e trazer composições que nos lembram muito do (bom) trabalho que fez ao longo dos últimos 40 anos – caso de Quando o Galo Cantou, Quero Ser Justo e Vinco, uma daquelas faixas que você torce para não acabar nunca, tamanha sua beleza.

Completam o repertório Um Comunista, canção biográfica sobre o guerrilheiro Carlos Marighella, e Gayana, parceria com Rogério Duarte que encerra o disco quase ludicamente em uma declaração de amor kitsch que flerta com sons eletrônicos.

Em contrapartida, o desafio de fazer um disco tão múltiplo é justamente o risco de desagradar quem veio atraído por apenas um ou outro som. E, por mais coerente que Abraçaço tenha ficado, os oito minutos de Um Comunista soam intermináveis no meio do álbum, enquanto o batidão de Parabéns não dá conta da digestão após a dupla Vinco e Quando o Galo Cantou.

Porém, se é sábio ouvir o que os mais velhos tem a dizer, precisamos prestar atenção no que Caetano fala ainda mais agora, do alto de seus 70 anos tão cheios de energia criativa e crítica. Ele tem muito a nos ensinar sobre fazer e ouvir música, seja a dele ou a dos outros.

Loading

BOM PARA QUEM OUVE: Thiago Pethit, Holger, Dirty Projectors
MARCADORES: MPB, Rock Alternativo

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.