Sabe aqueles tecidos que parecem bem leves, mas que protegem do frio como poucos? Desculpe, não entendo nada de roupas e não sei como eles se chamam. Porém, com o pouco que sei de música, posso afirmar que Zeski tem esse mesmo efeito. Tiago Iorc nunca nos entregou um trabalho tão rico em conteúdo e que, ao mesmo tempo, fosse de tão fácil digestão, apreciação.
Skin Deep começa o disco já mostrando qualidade e preparando o clima para o que nos espera mais adiante. Ela se desdobra facilmente aos ouvidos em uma construção simples e bem pensada. Quando Tiago começa a cantar, quase dá pra escutar seu sorriso (mas há chances de você esboçar um ao mesmo tempo).
A balada What Would You Say vem em seguida, com uma guitarra de personalidade forte dando as caras de vez em quando e backing vocal feminino completando a formação. Life of My Love, na sequência, anima o clima com melodia otimista e assobio no acompanhamento. Tudo muito bonitinho, com cara de que não teria como não gostar, sabe?
E é aí que entram aquelas músicas que já conhecemos, Yes and Nothing Less e It’s a Fluke. Minha impressão é que elas ficaram melhores aqui dentro, em seu “habitat natural”, ainda mais do que por aí. A primeira é multifacetada, com um lado melancólico forte e um grande aspecto intimista que se expõe (“I want to share it with you”, como termina a música), enquanto a outra, com sua deliciosa progressão, tem grande potencial de “favorita” de qualquer um.
Mas isso até você ouvir Shelford Road, música central no álbum, com timbres de cordas de fazer sonhar para acompanhar o vocal e uma percussão marcante. É daquelas músicas que te pegam de primeira e você vai precisar de um tempo pra se recompor dela. Mas tudo bem, porque é aí que Zeski, a faixa-título, entra em cena. Instrumental, ela serve também para separar o disco em dois. A primeira parte é, a muito grosso modo, Tiago Iorc como o conhecemos. Ou seja, composições suas em inglês. Já a outra mostra quatro faixas, todas colaborações e/ou covers.
Tem Um Dia Após o Outro, com Daniel Lopes, a parceria com SILVA em Forasteiro (de longe, o maior hit do álbum), Música Inédita com o vocal de Maria Gadú e aquela releitura de Tempo Perdido que parece extrair sua beleza em um grau que nem mesmo Renato Russo sabia que ela possuia. Em voz e violão, é ela que encerra Zeski.
Dá pra sentir que Tiago Iorc soube unir o teor Pop de seu Let Yourself In com a densidade de Umbilical, sabendo aproveitar o melhor de cada disco para criar uma obra introspectiva, mas ainda convidativa. E você acaba de ter os 38 minutos mais bonitos do seu dia. Eles passaram de uma só vez, mas deixaram seu impacto, como toda boa obra consegue fazer.