Resenhas

Dâm-Funk – Invite The Light

Segundo álbum do produtor americano não empolga

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Ano: 2015
Selo: Stones Throw
# Faixas: 17
Estilos: Electro-Funk, Funk, Alt-R&B
Duração: 75:33
Nota: 2.5
Produção: Damon Riddick

Damon Riddick, conhecido como Dâm-Funk nas rodas neo-Funk do eixo Pasadena-Los Angeles, é um malandrão. Não pense em algo pejorativo no termo, ele é usado aqui para exaltar os aspectos positivos do sujeito. Veja, Damon é um desses caras que aparecem num vídeo no YouTube colocando discos numa vitrola por mais de uma hora, fumando um cigarro, ostentando óculos escuros, enquanto faz umas intervenções à la Barry White sobre as canções que vai escolhendo, as quais ele também comenta ou contextualiza, dizendo coisas como “essa aqui tocava na rádio 123XYZ-FM de Los Angeles em 1983” e outras presepadas do gênero. Além disso, é claro, ele é produtor, engenheiro de som e colaborador de um monte de gente, de Snoop Dogg a Todd Rundgren. E tem uma carreira fonográfica que entrega agora seu mais novo rebento musical: Invite The Light.

Dâm-Funk gosta de passear pelos guetos oitentistas daquela mutação elétrica do Funk, algo que surgiu em paralelo ao Hip-Hop, em fins dos anos 1970, início dos 1980, com o sucesso de gente como Prince e Rick James, incorporando teclados e bateria eletrônica às levadas conduzidas por baixo e guitarra serpenteante. Fez bastante sucesso, influenciou gigantes como Michael Jackson e Stevie Wonder e ressurgiu no fim da década com o nome de New Jack Swing, tendo as batidas devidamente atualizadas pelos timbres daquele momento. Esta sonoridade voltou à moda há pouco tempo, sobretudo pelas incursões de artistas como Bruno Mars e apropriações de gente como Mark Ronson, um dedicado copycat de sons e gêneros, capaz de fazer canções certinhas do estilo (como o sucesso Uptown Funk, que, veja você, conta com a participação de Mars), mas sem a alma ou a quilometragem necessárias, pelo menos para agradar a velhotes old school.

Dâm-Funk pretende fazer essa conexão e resgatar uma espécie de pedigree do Funk da Costa Oeste, recolocando Pasadena, sua terra natal, no mapa. Dadas as 17 faixas deste seu novo álbum, nosso amigo precisa de algumas correções de rumo. O resultado que ele alcança é satisfatório mas suas batidas e programações beiram a monotonia em muitos momentos. Não há variações, seus timbres são banais e o ambiente parece muito estéril. Vou pesquisar e vejo que o disco foi gravado em casa, algo que, via de regra, não funciona com a música negra de modo geral. É necessário interação, suor, celebração, espontaneidade para que os ritmos, levadas e batidas consigam atingir ponto de ebulição, algo que não acontece por aqui.

Há bons momentos, é claro. A configuração aerodinâmica e tecladeira de Surveillance Escape quase a leva para o terreno da Eletrônica, tamanha a evidência – intencional? – da artificialidade do arranjo. A canção seguinte, Floating On Air, é um inusitado encontro de um timbre de contrabaixo escamoteado de Peter Hook (New Order) e colocado sobre palmas sintetizadas e sintetizadores malandros, com um resultado bem legal. The Hunt And The Murder Of Lucifer é o outro exercício de sonoridades contemporâneas x timbres vintage, com um bom exemplo do que se ouve no formato atual do que se entende por Funk hoje em dia. Há a participação de convidados ilustres ao longo do álbum: Ariel Pink surge em Acting, Snoop Dogg concede certa credibilidade de rua a Just Ease Your Mind From All Negativity e Q-Tip leva a situação para níveis mais elevados em I’m Just Tryna’ Survive (In The Big City), colocando blablablices rappers em meio a vocais e timbres que parecem saídos de um Atari 2600.

É injusto comparar este álbum de Dâm-Funk com o melhor dos gênios da mutação oitentista do Funk, mas dá pra torcer que ele assuma o papel de apresentar o melhor do estilo para uma multidão de moleques prontos para se esbaldar nos oceanos de sintetizadores, programações, blips e blops envelhecidos em tonéis de carvalho, novamente incluídos no mapa da descoletância musical neste 2015.

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BOM PARA QUEM OUVE: Bruno Mars, Funkadelic, Prince
ARTISTA: Dâm-Funk
MARCADORES: Alt-R&B, Electro-Funk, Funk

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.