Resenhas

Allah-Las – Allah-Las

Nostalgia extrema e muita melancolia fazem deste álbum uma volta em uma máquina do tempo que viajará para a Califórnia dos anos 60

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Ano: 2012
Selo: Innovative Leisure
# Faixas: 12
Estilos: Surf Rock, Surf Pop, Jungle Pop
Duração: 39:55
Nota: 4.0

Nos últimos anos, você deve ter notado o aumento no número de novos artistas que se inspiram no passado para criar suas obras. Não que esse seja um fenômeno inédito, mas, principalmente durante a última década, esse número parece ter aumentado de forma assustadora. A partir daí, eles se dividem em basicamente dois grupos: os que buscam se espelhar no antigo e criar uma sonoridade que emule a da época fazendo poucas alterações no que era então proposto, caso do brilhante álbum de estreia da Alabama Shakes, ou ainda artistas que se inspiram no passado, mas que sabem também sabem amarrar novas tendências e dão um toque de contemporaneidade à sua música, caso da também estreia de Lana Del Rey.

O primeiro disco do quarteto californiano Allah-Las, sem dúvida alguma, se encaixa no primeiro grupo. O som vintage do grupo consegue, mais que emular uma sonoridade do passado, nos transportar em uma viagem para a época de onde tira suas influências. Ajustada para os anos 60, essa máquina do tempo brinca com ritmos, texturas, timbres e temáticas da música da época e traz ao presente quase uma réplica de bandas da época. Surf Pop e Jungle Pop são as principais referências do grupo e aqui ganham uma versão tão fiel que não seria difícil acreditar que este fosse, de fato, um disco vindo dos anos 60.

A nostalgia Pop pode ser percebida pelas melodias ensolaradas e timbres crus das guitarras. Logo na abertura com Catamaran, já podemos perceber que temáticas e a própria sonoridade vem de 50 anos atrás e é nesta linha que a banda se manterá até o fim do álbum. Don’t You Forget It brinca ao redor de uma melodia em loop em que a letra é quase declamada enquanto narra uma série de desventuras amorosas. Tell Me (What’s On Your Mind) é mais uma das típicas baladinhas sessentistas com direito a coros, guitarrinhas contagiantes e um lirismo apaixonado e por vezes ingênuo. Long Journey, Catalina e Sandy seguem nessa mesma linha que constrói esse invólucro nostálgico da obra.

A ambientação do disco parece realmente uma viagem no tempo, uma viagem que também pode ser didática. Em algumas das faixas, como as instrumentais Sacred Sands e Ela Navega*, a banda faz um paralelo à cisão que existiu entre o Surf Rock, em sua grande maioria somente instrumental, e o Surf Pop, que começou a colocar vocais em cima das melodias vindas da Surf Music. Nesta segunda faixa, podemos ainda notar a influência de outro gênero tipicamente ligado à praia e a esse clima nostálgico: a Bossa Nova.

Suingue melancólico, letras apaixonadas e fidelidade extrema à nostalgia fazem desse álbum uma das estreias mais interessantes deste ano. Um daqueles poucos discos que conseguem te transportar para outra época e lugar. Ao dar o play em Allah-Las, logo você se verá em meio a um fim de tarde californiano, onde o sol poente é emoldurado pelas belas paisagens que o cercam.

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ARTISTA: Allah-Las

Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts