O grilo é um animal que possui diferentes significados por aí. Comumente associado à sorte, também significa felicidade, ressurreição e sabedoria. Essa piscina de sentidos e, ao mesmo tempo, indefinições é adequada, portanto, para dar nome aO Grilo. A banda paulistana, desde seu EP Herói do Futuro, demonstrou uma afiada capacidade de juntar referências distintas que sugerem múltiplas definições – indo muito além do guarda-chuva do chamado “pop rock”.
Apesar de “indie” ser um termo pouco preciso para definir a sonoridade dO Grilo, é justamente essa dificuldade descritiva que caracteriza a paleta de gêneros com a qual o grupo pinta diferentes paisagens musicais. É possível escutar ecos de pop, rock, reggae, bossa nova, marchinha, R&B, entre outros. A pluralidade de referências, também se reflete na formação da banda, que tem integrantes vindos de estados e contextos musicais diferentes, cada qual bancando suas respectivas particularidades no resultado final.
É a partir desse trânsito de significados e no reconhecimento da importância de cada trajeto que o grupo coloca seu novo disco no mundo: TUDO ACONTECE AGORA PT.1. Aqui, a banda reflete sobre grandes temas sentimentais e, ao mesmo tempo, traz à mesa sua própria história e o tempo dedicado a turnês durante os últimos anos. Tudo no disco parece expressar estes trajetos – físicos, sentimentais e sonoros – e talvez por isso seja tão difícil categorizar o grupo. Tanto a produção quanto as composições trilham esses caminhos de imprecisão/indefinição e, considerando o título do disco, a proposta também faz parte do recado: tudo acontece agora e não há motivos para rótulos e previsões. Esta é a primeira parte de uma nova era dO Grilo – uma era que comporta todas as outras, de tal forma que, além de uma viagem de primeira, serve como ótimo cartão de visita para a obra da banda paulistana.
Em ritmo constante e forte, o disco começa com “Me Deixe Só” marcando os primeiros passos da jornada – um rock pop entusiasmado que entrega a energia conhecida das performances ao vivo do grupo. “Manual Prático do Tédio” é um híbrido indie-ska que coloca um suingue incessante a serviço de melodias inventivas entoadas pelo vocalista Pedro Martins. “Passo a Passo” tem calor pop e um toque de disco music, mas é munida de sutilezas que a tornam perfeita para um momento-contemplativo-de-pôr-do-sol-pela-estrada. “TUDO//” é um misterioso e pontual interlúdio psicodélico – mas que parece ser uma parte de uma mensagem que irá se completar nos próximos lançamentos. Puxando o pop lustroso dos 1980, “Já Não Me Faz Bem” é o ápice ensolarado no repertório e ressoa The Police e Paralamas do Sucesso.
Em seu novo disco, O Grilo concentra seu potencial criativo na impermanência e na fluidez, tanto temática quanto sonora, com personalidade e carisma. E o movimento constante por entre diferentes destinos é fator decisivo para que o disco seja contagiante.
(TUDO ACONTECE AGORA PT.1 em uma faixa: “Passo a Passo”)
