Resenhas

Alicia Keys – KEYS

Álbum duplo é um estudo arrojado pelo R&B e mais uma prova de como a estrela nova-iorquina é fluente nas mais variadas linguagens do gênero

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Ano: 2021
Selo: Independente
# Faixas: 26
Estilos: R&B
Duração: 93'
Produção: Alicia Keys e Mike Will Made It (Unlocked)

Alicia Keys ocupa um espaço muito “só dela” na produção fonográfica atual, satisfazendo as expectativas e conquistando o respeito de pessoas vindas dos mais diversos cantos do espectro que compreende a indústria musical. Para uns, ela é aquela celebridade milionária que tem a grande mídia aos seus pés. Já outros olham para ela e veem uma artista fluente em uma linguagem, alguém que sabe utilizar a arte a favor de sua expressão e de sua mensagem com maestria. Alicia Keys é juíza de reality show, mas é também uma célebre esteta do R&B.

KEYS é uma obra que permite que este seu lado de uma estudiosa da estética venha à tona sem muitas distrações do mercado. Nada no álbum (duplo) parece ter sido feito para atender alguma demanda da equipe de marketing, ou planejado para explorar seu “apelo comercial”. Pelo contrário, o disco que chegou no fim de 2021, ano das comemorações dos 40 anos da artista e também de seus 25 anos de carreira, traz consigo um novo início em sua discografia, agora como artista independente, após o fim do contrato com a gigante Sony.

Não é de se estranhar, portanto, que tudo no álbum exclame algum tipo de liberdade, seja a de lançar um disco duplo em uma época que, dizem, as pessoas só querem singles, ou apostar em composições, arranjos e produções que, em sua maioria, não se mostram lá muito “radiofônicas” (se é que a expressão ainda é essa em 2022). Para além de tudo isso, KEYS se desenvolve através de um primeiro disco que traz as composições como elas foram pensadas pela cantora (Originals) e um outro volume que apresenta versões eletrônicas (Unlocked), feitas em parceria com o produtor Mike Will Made It.

Oferecendo mais de uma hora e meia de música, ambos os discos foram desenhados para explorar um R&B sempre muito arrojado, seja na atemporal “Is It Insane”, na romântica “Best of Me” ou na animada “Skydive”. Independente de qual versão dessas você escute, é clara a intenção de trabalhar harmonias distantes do óbvio, assim como uma dinâmica que sabe impressionar. É familiar, por ser a voz de Alicia aliada ao piano, e por trazer desdobramentos de um R&B já consagrado, mas há um enorme frescor por todos os lados.

Para quem espera que KEYS faça jus à dimensão, digamos, estelar da cantora, o álbum traz participações de gente como Brandi Carlile, Lil Wayne e Khalid, além de colaboradores do naipe de Sia, Jacob Collier e Swizz Beatz (não por acaso, marido da artista e homenageado na faixa “Best of Me”). Ainda assim, a obra se aproxima mais do conceitual HERE (2016) do que de ALICIA (2020), com sua verve Pop mais latente. Mas é um lançamento para lembrar que, mesmo que o selo Alicia Keys de qualidade esteja em tudo que ela toque, é quando ela se sente mais à vontade para experimentar que constatamos por que ela é tão gigantesca, quanto respeitada.

(KEYS em uma faixa: “Nat King Cole” – em suas duas versões, Originals e Unlocked)

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ARTISTA: Alicia Keys

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.