Uma nova formação na banda e um conjunto de fatores que atrasaram a produção de Blue Rev são alguns dos fatores que fizeram com que o terceiro disco do grupo canadense tivesse um fôlego diferente de seus anteriores, ainda que conserve ipsis literis aquela alma indie que alçou Alvvays aos holofotes desse nicho.
Todas as guitarras que você espera de um favorito do gênero estão presentes, assim como a gravação de aspecto ora orgânico, ora nostálgico. Aliás, a própria maneira com que o produtor Shawn Everett abordou a produção de Blue Rev invoca o espírito criativo do indie: ele fez a banda tocar o repertório todo de uma só vez, como se fosse um show, e depois eles passaram meses debruçados sobre o material preenchendo lacunas e adicionando efeitos.
É interessante citar o processo de criação da obra nesse caso porque ele tem um impacto direto em sua sonoridade, é claro, mas também porque ele vai de encontro ao que Alvvays tinha para o disco – aquilo que, em parte, atrasou seu lançamento. Talvez por vir de uma sequência muito elogiada (após Antisocialites, de 2017, e o disco homônimo de 2014), talvez pela nova formação, a banda tentou sempre encontrar tempo para compor fora da turnê, com um alto grau de perfeccionismo.
A história conta também que as demos foram levadas durante um roubo na casa da vocalista e uma enchente levou outra parte do material, além de uma certa pandemia que impediu que os músicos se reunissem. Na hora de tocar Blue Rev com o produtor para a gravação, ele quis deixar esse aspecto orgânico tomar conta do processo e deixar a banda encanada com sua performance, para focar nos detalhes depois. Daí, haja guitarras, processamentos e aquele climinha ao vivo que tanto combina com o indie.
Mais interessante ainda é notar como esse processo de se permitir relaxar e enfrentar uma situação com outra atitude é o contexto ideal para muitas dessas músicas, que cantam sobre sensações ansiosas, uma ou outra angústia existencial e aquela solidão que acompanha todo ser humano, ainda mais os de grande sensibilidade. Faz bem respirar fundo, desapegar do que foi muito planejado e focar no que se tem em mãos.
(Blue Rev em uma faixa: “Easy on Your Own?”)
