Resenhas

Bill Ryder-Jones – Iechyd Da

Quinto disco do cantor britânico comove de forma mais poderosa quando deixa a pretensão de lado e privilegia a face autoral mais natural

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Ano: 2024
Selo: Domino Records
# Faixas: 13
Estilos: Folk, Indie Pop, Indie
Duração: 48'
Produção: Bill Ryder-Jones

Quem são artistas senão as pessoas que estão ocupadas com os efeitos do que as obras podem causar em outros seres humanos? Ora, o fazer criativo só encontra significado junto à sensibilidade, à interpretação e outras atividades próprias do ser gente. A feitura das obras, portanto, tem pouco ou nenhum sentido, a não ser que encontre em uma pessoa sequer algum tipo de reação – nem que seja no próprio artista.

Isso vem à mente ao escutar Iechyd Da, do britânico Bill Ryder-Jones, um álbum cujo autor elegeu como sua “melhor produção” até hoje. Mesmo antes de ler essa afirmação, ouvintes conseguem perceber que há ali uma intenção de “excelência”, um desejo de oferecer um trabalho de altíssima qualidade. E esse primor vem acompanhado – nem sempre, mas em diversos momentos no disco – de uma bonita capacidade de comover.

Bill não é nenhum novato – participou de cinco discos com a banda The Coral – e, em sua discografia própria, entrega agora este que é seu quinto álbum. O estúdio em que ele gravou todo Iechyd Da, do qual ele assina a produção, é também seu. Ou seja, o álbum é um daqueles trabalhos que não teriam como não chegar ao mundo com uma qualidade para além da básica, e é bom para o músico como artista e como profissional colocar em si o desafio de fazer algo maior do que já fez antes.

Mas é aí nessa ambição, percebida até nas faixas mais intimistas, que o disco se perde um pouco. E isso porque Bill tem experiência de sobra para saber que a beleza de suas músicas e a habilidade da execução fonográfica teriam pouco valor se não gerassem momentos que emocionassem seus ouvintes. Então, a ânsia de criar algo excelente teve que dar lugar também ao desejo de comover.

Ao mesmo tempo em que o álbum nos oferece momentos lindíssimos como “I Hold Something In My Hand”, “This Can’t Go On” e “If Tomorrow Starts Without Me”, toda a segunda metade tem um certo gosto de “zona de conforto”, por repetir o que nos fez sorrir ou lacrimejar nas primeiras faixas. Momentos muito orquestrados e, principalmente, os coros infantis que marcam a audição de Iechyd Da chegam a ter suas belezas ofuscadas pelo “sensacionalismo” que eles parecem tentar promover. O próprio sample de Gal Costa e sua “Baby” que abre o disco tem essa cara de um recurso utilizado para impressionar, mas pouco acrescenta à faixa ou à obra como um todo.

Há espaço de sobra para a comoção no álbum, mas ela aparece mais quando Bill Ryder-Jones se “contenta” com seu talento para escrever e interpretar faixas que atravessam estilos em uma autoralidade bastante atemporal – é um ser humano cantando sobre sentimentos que as pessoas têm, e isso é mais do que suficiente. A beleza de suas músicas chega a ser constrangedora, de tão grande, em uma ou outra faixa, mas o disco chega ao fim com a carga pesada de uma obra que se desequilibrou no meio do caminho.

(Iechyd Da em uma faixa: “This Can’t Go On”)

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Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.