Resenhas

boygenius – the record

Primeiro disco cheio do projeto de Julien Baker, Lucy Dacus e Phoebe Bridgers condensa – e amplifica – o que as três artistas fazem de melhor

Loading

Ano: 2023
Selo: Interscope Records
# Faixas: 12
Estilos: Indie, Indie Rock
Duração: 42'
Produção: Julien Baker, Lucy Dacus e Phoebe Bridgers

“Coprotagonismo” é o lema em The Record – ou melhor, em tudo o que boygenius se propõe a fazer. O primeiro trabalho em longo formato do supergrupo, após o celebrado EP homônimo de 2018, chega com a missão de honrar toda e qualquer expectativa que exista em cima da união entre Julien Baker, Lucy Dacus e Phoebe Bridgers – que vivem excelentes momentos em suas carreiras solo, amparadas por público e crítica. Com isso, toda a audição da obra vem acompanhada de um grau de afirmação que paira sobre as músicas, como se as canções sussurrassem ao ouvinte um “olha que disco legal que elas fizeram” a cada poucos segundos.

São três cantoras e compositoras que já se tornaram referência, e não só estão juntas para cantar como também assinam a produção da obra. É um disco delas, que reúnem em 12 faixas suas sensibilidades e suas intimidades em um álbum com cara de desabafo entre amigas, com um acesso livre e franco ao que as três têm a oferecer em poesia e em música. O capricho com que tudo foi feito é sempre muito evidente, da sonoridade crua e orgânica da abertura com “Without You Without Them” aos momentos de maior volume sonoro do disco, como “20$” e “Not Strong Enough”.

No geral, The Record exibe uma estética familiar para quem acompanha as artistas. É um indie e indie rock bastante redondinho, com toques de um pop de outrora que faz com que os refrãos ecoem no ouvinte mesmo muito depois da audição. Ao acompanhar as letras, se nota que elas utilizam um recurso similar na maior parte das faixas: contam uma breve história, ou mesmo descrevem uma situação, para narrar a partir daí os sentimentos e as reflexões que esses acontecimentos lhes deram. É uma poesia calcada na linguagem popular e dotada da beleza que uma conversa sincera pode ter.

E por mais específicas que essas narrativas possam ser, elas cantam sempre de sentimentos muito universais, mas nem sempre óbvios. É o caso de “Cool About It” e a vontade de se convencer que é fácil viver uma relação, ou o prazer de poder se abrir com alguém que te conhece intimamente, como cantado em “True Blue”. “Satanist” fala sobre a vontade de viver fora dos padrões, enquanto a apoteótica “Letters to an Old Poet” narra sentimentos conflituosos de amar alguém que não te faz bem – “I’m ready to walk into my room without looking for you” é um dos versos mais legais de todo The Record.

É essa exposição que os fãs de Julien, Phoebe e Lucy estão acostumados e que têm acesso no álbum. Fica a impressão de que as três, ao invés de se completarem (e uma entregar o que a outra não tem), preferiram unir as forças que têm em comum e trabalhar a intersecção de seus universos musicais. O resultado é um disco sempre muito potente no qual todas elas brilham juntas, no mesmo nível, e quem já acompanhava a discografia de uma ou de outra se vê agora fã das três.

(The Record em uma faixa: “Not Strong Enough”)

Loading

BOM PARA QUEM OUVE: Julien Baker

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.