Em seu segundo álbum de estúdio, o grupo pernambucano bule mais uma vez mergulha num misto extremamente dançante entre synth pop e indie pop psicodélico. A atmosfera nostálgica das faixas serve como cama para letras dolorosas que tocam em temas como a aceitação da dor, perda e amores desfeitos. Um sabor agridoce embebido de melancolia que abraça o ouvinte.
Pedro Lião (voz, synth), Carlos Filizola (guitarra, synth), Berna Coimbra (baixo), Kildare Nascimento (bateria) e Damba (percussão, programações) chegam a um resultado, não obstante seu ar retrô, soa bastante atual. São timbres deliciosos de sintetizador, camadas de guitarras e vozes às vezes submersas que já podem ser percebidos desde a abertura, com “canção de amor”. Tudo é muito bem amarrado num tom pop oitentista em canções que soam ora dançantes (“tudo pra mim”), ora mais reflexivas (“era muito mais pra mim”).
O repertório imprime uma abordagem introspectiva sobre os caminhos tortuosos que a vida nos coloca e, no final das contas, a inevitabilidade da perda. A banda repassa memórias, traumas e inquietações para levantar reflexões sobre nossos processos de aceitação e cura. Há espaço também para a lembrança dos amores adolescentes (como em “ainda é verdade” ou “pensando em você”) em que a carga dramática ganha novos contornos com a urgência à flor da pele que só a juventude consegue nos proporcionar.
Sem receio de demonstrar vulnerabilidade, o quinteto recifense explora sentimentos universais de impotência e resignação diante das adversidades. Não à toa, a própria banda diz que a obra é sobre “Abraçar a tristeza como parte da nossa trajetória e convidá-la para dançar. Assim convivemos, sobrevivemos, vamos adiante. Um passo de cada vez”. E talvez não haja liberdade maior do que aceitar que tudo isso é uma constante enquanto vivermos.
(dançando sem ninguém me ouvir em uma faixa: “canção de amor”)