Resenhas

Ezra Collective – Where I’m Meant to Be

À vontade e acompanhada de convidados ilustres, banda britânica mantém a fluência de seu jazz em segundo disco cheio

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Ano: 2022
Selo: Partisan Records
# Faixas: 14
Estilos: Jazz
Duração: 68'
Produção: Ezra Collective

Que delícia ver uma boa banda à vontade com sua crise de identidade. Where I’m Meant to Be não tem esse nome à toa: Ezra Collective compreende o lugar que ocupa no cenário musical da atualidade – um espaço de jazz, mas não apenas; em encontro ao popular, mas sempre com muito refinamento e ambição.

As 14 faixas do álbum (12 músicas e duas vinhetas faladas) rumam a diversas direções que confirmam e expandem a musicalidade múltipla e arrojada que o grupo britânico apresentou em sua ainda jovem discografia (este é seu segundo trabalho de longa duração, após diversos singles e EPs). De ritmos latinos a um jazz funkeado, cabe excelência em cada segundo da obra.

As participações têm grande impacto na experiência de escutar Where I’m Meant to Be, até porque as vozes convidadas (Sampa the Great, Emeli Sandé e Nao, por exemplo) têm seus timbres muito bem aproveitados dentro da dinâmica do jazz. Elas também adicionam uma maior personalidade às músicas, sendo que as faixas apenas com Ezra Collective, ainda que excelentes, pecam na falta de algum diferencial para além da alta qualidade.

Não dá para dizer que músicas como “Belonging” não sejam impressionantes, assim como “Never the Same Again” ou “Live Strong”, mas elas apresentam aquele “jeitão” de jam que o ouvinte logo visualiza assim que está diante de uma obra do gênero. A vibe reggae de “Ego Killah” e os samples de Jorja Smith em “Togetherness”, por outro lado, constroem faixas que trazem alguma surpresa no disco e nos relembram da variedade que a banda insere no argumento para seu som.

De volta ao tal ouvinte do jazz de hoje em dia, entretanto, é de se esperar que essa pessoa escute um disco como Where I’m Meant to Be mais pela excelência da performance dos músicos e pela qualidade dos arranjos do que para encontrar um trabalho de identidade mais própria ou original na maneira com que a música é abordada. Até porque, ao que parece, o grupo quer mesmo é ser essa banda do gênero como se espera que ela seja, mas que trabalha com os dois pés e todos os instrumentos em prol de uma diversidade sonora – tudo pode ser muito divertido sendo jazz, e ele pode ficar muito bem sendo qualquer outra coisa.

Em uma época em que se fala tanto de fluidez e de volatilidade, faz muito bem encontrar uma obra que se aproveite dos debates sobre “ser ou não ser” a favor da boa música. E que bom que Ezra Collective é desse jeitinho, convencional no que pode permanecer como está e aberta aos bons sons que sopram em nossos ouvidos.

(Where I’m Meant to Be em uma faixa: “Never the Same Again”)

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Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.