Resenhas

Florist – Florist

Quarto disco do projeto liderado por Emily Sprague encanta com cumplicidade de versos sussurrados e arranjos de beleza crescente

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Ano: 2022
Selo: Double Double Whammy
# Faixas: 19
Estilos: Indie, Folk
Duração: 57'
Produção: Florist

“Um projeto de amizade” – é assim que a banda Florist inicia sua bio nas plataformas de streaming. Essa qualidade de companheirismo é também a base de seu quarto álbum, o primeiro autointitulado, o que pode ser percebido tanto em sua temática geral quanto na maneira com que Emily Sprague canta suas letras, como se compartilhasse sua vida e sentimentos com um confidente (no caso, o ouvinte).

Essa é uma das duas características que mais definem a audição, a cumplicidade dos versos sussurrados. A outra é uma beleza crescente, que se desenvolve por quase uma hora de duração, entre a interpretação sussurrada, intimista e confessional da cantora e uma coleção de timbres também discretos, em sua maioria. É uma obra para ser desfrutada com fones de ouvido, permitindo que os detalhes que adornam os arranjos sejam também melhor apreciados.

É preciso notar que as canções se desenrolam por um espectro sonoro bastante específico, aquele que reside do casamento de um indie charmoso com um folk requintado. O público que acompanha nomes como a veterana Yo La Tengo ou gente do naipe de Angel Olsen e Lucy Dacus logo reconhecerá a linguagem – ou o “sotaque” – com que esses arranjos foram feitos.

Vale destacar também como essa estética tão bem definida, que faz com que algumas das músicas se pareçam bastante entre si, é driblada pela banda com alguns vários interlúdios e vinhetas que aparecem ao longo de Florist, a começar pela faixa de abertura (“June 9th Nightmare”) até a de encerramento (“Jonnie on the Porch”). Diferentes das canções, esses momentos exploram belezas menos óbvias, seja pelas harmonias ou mesmo nas escolhas de timbres, e, mesmo que não agradem a todos, colaboram para uma audição mais dinâmica em sua longa duração.

Mas, de todas as escolhas de composição, arranjo e produção do disco, talvez a que mais chame atenção seja justamente a “ausência” que algumas faixas apresentam. Elas deixam a sensação de que sempre “falta” uma parte da harmonia vocal que nunca é preenchida (como em “Sci-Fi Silence” e na belíssima “Dandelion”). Uma interpretação para essa opção é a maneira como o ouvinte completa o som mentalmente com a peça que falta, como se também integrasse aquela música, dentro do conceito de companheirismo do álbum.

Essa mesma ideia é desenvolvida dentro do contexto óbvio de “banda”, ou seja, uma reunião de pessoas ali com um forte vínculo que as une. O fato de Florist assinar a produção do disco também reforça essa ideia de “colaboração”, e alguns dos melhores momentos da obra são aqueles que o grupo se mostra mais presente, como “Feathers” e “River’s Bed”. Não por acaso, Florist é uma das obras que melhor te fará uma companhia nesta temporada.

(Florist em uma faixa: “Dandelion”)

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ARTISTA: Florist

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.