Resenhas

Gaz Coombes – Turn the Car Around

Sem apelar para a nostalgia (e sem forçar barra na jovialidade), quarto disco solo do líder do Supergrass é uma excelente coleção que flerta com diferentes vertentes do rock britânico

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Ano: 2023
Selo: Independente
# Faixas: 9
Estilos: Rock Alternativo, Indie Rock
Duração: 37'
Produção: Ian Davenport

O veterano Gaz Coombes coloca a sua experiência a favor de suas composições, assim como toda sua competência em prol do “novo” em Turn the Car Around, seu quarto álbum solo. Ao longo de nove faixas, o músico conhecido há 30 anos por seu trabalho na banda Supergrass se recusa a ser nostálgico, ao mesmo tempo em que nunca força a barra na jovialidade de seu som. O resultado é uma coleção ímpar de canções excelentes que flertam com a atemporalidade.

“Overnight Trains” abre o repertório na melancolia do clima voz e piano, com uma banda completa no clímax da faixa, com direito a desenvolvimento arrastado e um fim relativamente abrupto. Bem-feitinha, ela dialoga com o britpop e o rock alternativo sem derrapar, mas não impressiona tanto. Contudo, cumpre com louvores sua função de comunicar ao ouvinte a intensidade do que está por vir.

A partir de “Don’t Say It’s Over”, a música seguinte, Coombes injeta com maestria uma emoção que se reflete na sua interpretação vocal, na dinâmica entre os timbres e em toda a ambientação. Isso faz com que cada uma das faixas do disco seja apresentada como uma pequena joia lapidada pelas tradições britânicas em vertentes do rock, de The Who a Arctic Monkeys, passando por Oasis.

Faixas como a divertida “Long Live the Strange” e “This Love” ecoam esse argumento a cada segundo, com cara de algo que você já escutou bastante antes, mas com uma produção e um tratamento sonoro caprichadamente de hoje em dia. “Feel Loop (Lizard Dream)”, por sua vez, reverbera Radiohead enquanto adjetivo, enquanto classificação, e entrega um dos momentos mais instigantes da obra.

A bela faixa-título e a balada “Not the Only Things” (que também ecoa Thom Yorke aqui e ali) dão ainda mais corpo emocional a um álbum que sabe chegar ao ouvinte com grande sensibilidade. As harmonias vocais de “Sonny the Strong” e o clima apoteótico da derradeira “Dance On” evidenciam não só o quanto Gaz Coombes quer emocionar, mas também como ele sabe direitinho como fazer isso.

Turn the Car Around é um daqueles discos de uma excelência muito particular, daquelas obras que, no oceano de streaming, dificilmente terão o devido reconhecimento de um público maior. Quem optar pelo play, no entanto, encontrará um disco delicioso que merece figurar entre os destaques do rock e indie rock de hoje em dia – ou de qualquer outra época.

(Turn the Car Around em uma faixa: “Don’t Say It’s Over”)

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ARTISTA: Gaz Coombes

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.