Resenhas

Julia Branco – Baby Blue

Segundo disco da artista mineira realiza diálogo interessante entre passado e presente, com arranjos delicados e elegantes

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Ano: 2023
Selo: Dobra Discos
# Faixas: 10
Estilos: MPB, Pop Rock
Duração: 29'
Produção: Ana Frango Elétrico

“Queria que o álbum soasse futurista e antigo“ diz a artista mineira Julia Branco ao apresentar seu segundo álbum de estúdio, Baby Blye. Com a ajuda na produção de Ana Frango Elétrico, Julia alcança este exato resultado: algo que parece vindo de um empoeirado disco de MPB a ser garimpado em algum sebo, porém com contornos sonoros e temáticas do agora. Essa dualidade cria um diálogo interessante entre passado e presente, envoltos em arranjos delicados, elegantes e nostálgicos.

O jogo entre o novo e o velho ocorre ao longo de todo o disco, seja pela presença de uma versão para “Lost in the Paradise”, de Caetano Veloso, que aparece aqui reconfigurada sob arranjo minimalista guiado pelos sintetizadores, ou ainda pela presença da primeira filha de Julia, Cora, na canção de abertura, “In / To Cora”. A bebê aparece balbuciando algumas palavras enquanto efeitos psicodélicos distorcem, empilham e brincam com sua voz. Tudo isso parece culminar em “Tempo Lento”, faixa que brinca textualmente com a passagem do tempo e nossa percepção sobre seu andamento – ora lento, ora ligeiro.

Outra temática muito presente no registro é a maternidade. Ela é encarada de frente em “Fim e Começo”, canção que discute ciclos de forma bem inteligente, enquanto Julia ainda expõe alguns pontos mais pessoais da jornada de se tornar mãe. A bela balada “Ponto de Virada/ Carta para o Futuro”, que encerra o registro, fala sobre expectativas e esperanças, como se Cora fosse exatamente o “ponto de virada” na vida Julia, que agora também tem que “servir como chão” para uma nova pessoinha.

Com a engenharia de som de Chico Neves (que já trabalhou com nomes como Skank e Los Hermanos) e a produção de Ana Frango, o registro brinca com a sobreposição do moderno e da velha guarda. São timbres, efeitos, ruídos e sonoridades que remetem aos registros de medalhões como Caetano Veloso, Gal Costa e Gilberto Gil lançados durante os anos 1960 e 1970, mas sem nunca deixar de usar ferramentas modernas ou mesmo de soar como um disco dos anos 2020. É um vintage que está na moda.

(Baby Blue em uma faixa: “Fim e Começo”)

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ARTISTA: Julia Branco

Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts