Falar sobre o prazer de estar vivo é um grande desafio em uma época como 2021 em qualquer lugar do mundo. É fácil cair em uma mensagem que pareça bobinha, ingênua, ou apenas muito dissociada da realidade. De um ponto de vista estético, Low decifrou a fórmula de como comunicar uma mensagem positiva que não se perde em meio à confusão de nossos dias.
HEY WHAT se aproveita da experiência do duo, construída em 13 álbuns lançados ao longo de quase duas décadas. Sua música incorpora os elementos ruidosos e dissonantes presentes em sua essência a vocais emocionados e esperançosos que interpretam o que a dupla nomeou como “hinos”, com seus arranjos tão grandiosos, resultado do trabalho com B.J. Burton, que assina a produção da banda pela terceira vez.
Ao ouvirmos faixas como “More”, fica evidente que as composições em si ostentam belezas que cairiam bem nas mais variadas ambientações, de instrumentos acústicos a bases eletrônicas aceleradas. O que Low promove, no entanto, é o encontro desses “hinos” com elementos mais do que ruidosos, que adicionam estranheza sem que se perca o encanto pelo que está sendo cantado.
As letras são reflexivas e proporcionalmente breves para a longa duração da maior parte das faixas. Através de algumas repetições, os vocais ocupam mais espaço, ao mesmo tempo em que funcionam quase como mantras para o ouvinte – “White Horses” e “All Night” exemplificam o estilo do álbum. Ainda que as vozes às vezes se percam em meio às interferências – tanto por elas ocuparem muito espaço da cama sonora, quanto por elas chamarem bastante atenção -, HEY WHAT nunca deixa de ser um disco de canções.
Quando nossos ouvidos se acostumam com essa dinâmica de harmonias ruidosas, Low leva sua música a um outro território na faixa “Hey” (que, além de nomear a obra, divide o disco em lados A e B). Em sua progressão, a balada ganha ares etéreos, com timbres rarefeitos e muito ar nas vozes. É também uma retomada de fôlego para aqueles que já se cansavam das guitarras e barulhos da primeira metade da obra.
Ao chegar à última música, HEY WHAT já se mostrou um álbum que mais abraça o ouvinte pelas harmonias ensolaradas do que repele pelos ruídos às vezes incômodos – propositalmente, é claro. Encontrar e construir beleza em uma época como 2021 talvez só seja relevante quando se incorpora o que é sujo, o que é amargo, o que é áspero. É o que tem pra hoje.
(HEY WHAT em uma faixa: “White Horses”)