Matthew Tavares, ou apenas Matty, é o tecladista e produtor canadense cofundador do trio BadBadNotGood (ou BBNG). Ao longo de sua carreira com a banda, o músico lançou uma série de discos que unem jazz, hip hop e elementos da música pop – chegando até mesmo a recriar trilhas sonoras de videogames.
Desde a saída do grupo, Matty tem se dedicado à sua prolífica carreira solo, que começa em 2018, com o disco Déjàvu, e passeia por lançamentos como Selected Ambient Squirts (2020) e Visions (também de 2020). Neste segundo, o músico se junta ao saxofonista Leland Whitty (outro membro da nova formação do BBNG) para mais uma vez experimentar com o jazz, desta vez brincando com ritmos brasileiros – inspirando-se em nomes como Arthur Verocai.
EIS O HOMEM, mais recente disco de Matty, é um novo mergulho na música brasileira, desta vez bebendo de fontes que vão além do campo do jazz. O tecladista se inspira no samba, nos ritmos afro-brasileiros, na nossa psicodelia e no funk para criar uma amálgama que borrar limites e gera algo bastante único. Tanto o disco é uma homenagem à nossa música, que não só o título, como também os nomes das faixas estão todos em português.
Por conta dessa abordagem experimental o disco soa bem diverso. Já na abertura, em “MEU”, o tecladista sobrepõe diversos dos elementos que estarão presentes em toda o repertório: são dedilhados gentis do violão que se encontram com uma percussão crescente e sincopada (às vezes tendendo ao funk), recortes vocais cantados em português e um baixo bem marcado. Na sequência, “ÁGUAS DE MARTE” se aprofunda ainda mais nas camadas rítmicas do funk para desenvolver uma faixa dançante – assim como em “ATENÇÃO” e “SONHO DE DEUS”.
Em contraste, composições como “EU PERGUNTO ISSO A VOCÊ” e a derradeira “AO LUAR” nos transportam para uma atmosfera nostálgica, como se tivessem sido extraídas de um disco de violão acústico dos anos 1980. “PAIXÃO” resume bem o registro, caminhando por momentos mais intensos, até a calmaria do violão psicodélico carregado de reverb.
Fã confesso de música brasileira, Matty tem em EIS O HOMEM sua homenagem mais genuína a nossa música. Ele explora as referências brasileiras de forma versátil, a ponto de criar algo que soa mais do que a soma de partes individuais. Uma experiência autêntica em sua vastidão.
(EIS O HOMEM em uma faixa: “PAIXÃO”)
