Resenhas

Nailah Hunter – Lovegaze

Centrada no ambient, mas com toques de folk, estreia da harpista americana une beleza e melancolia

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Ano: 2024
Selo: Fat Possum
# Faixas: 10
Estilos: Ambient, Folk
Duração: 40'
Produção: Cicely Goulder

É sempre interessante observar o movimento de uma instrumentista que decide se aventurar pelo território da canção. No caso de Nailah Hunter, falamos de uma multi-instrumentista que tem a harpa como seu principal objeto de estudo, mas é natural que suas outras vivências na música estejam presentes em Lovegaze, seu álbum de estreia. Também é sabido que ela teve seu primeiro contato com a música na igreja, então é de se esperar que a palavra cantada faça igualmente parte de seu repertório pessoal.

Para tentar explicar o tipo de som que encontramos no disco, ajuda ter o conhecimento de todo esse seu pano de fundo. A classificação “Ambient” logo vem à mente, pela maneira como Nailah constrói paisagens sonoras com um clima etéreo, muitos sintetizadores e reverberações. É bastante fácil ligar todos esses elementos a um clima espiritual, fruto da ambientação aérea presente do início ao fim da obra, como se cada faixa tentasse sair ao menos um pouco do chão.

Já suas letras têm teor confessional – não no sentido de revelar segredos, mas de compartilhar intimidades. Seja o contato com lados seus antes desconhecidos, como em “Adorned”, ou os relatos de sonhos surrealistas de “Into the Sun”, tudo o que escutamos em Lovegaze nos aproxima mais da figura da artista. E é daí que surge também outra classificação para o seu trabalho: folk, que é como costumam se referir a esse tipo de atitude. Nos Estados Unidos, onde Nailah nasceu e cresceu, ela ainda poderia ser chamada de “singer-songwriter”, a “compositora que é também cantora”.

Entre momentos mais intensos, como na faixa-título, ou na levada R&B de “Finding Mirrors”, Lovegaze é a colisão desses pilares que formam quem Nailah Hunter é hoje como artista. Ela traz consigo uma forte carga de trabalho instrumental que ampara seu lado vocalista – e vale notar que seu canto, ainda que em primeiro plano nas faixas, se mistura facilmente à cama sonora, como se fosse mais um dos instrumentos. Com paisagens musicais tão vívidas, o que ela constrói é um universo que envolve os ouvintes com beleza e melancolia, entre uma neblina espessa de sentimentos tão carregados e a delicadeza da harpa que a acompanha tão de perto.

(Lovegaze em uma faixa: “Adorned”)

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ARTISTA: Nailah Hunter

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.