Nos últimos anos, a cena do rock irlandês tem chamado a atenção por bandas como Fontaines D.C., Gila Band e The Murder Capital, mas também tem semeado o terreno para novas experiências, como é o caso dos dublinenses do Sprints. O quarteto, em ascensão desde o lançamento dos primeiros singles, chega agora com Letter to Self – uma estreia e tanto.
Com sonoridade difícil de se encaixar nesse ou naquele gênero específico, podemos dizer que a banda traz um rock alternativo (o que quer que esse termo signifique para você) com predisposição ao noise, ao grunge e ao pós-punk. Uma salada musical cheia de explosões ferozes das guitarras, baterias inquietas e um vocal feminino bastante poderoso. É um daqueles discos que só poderiam ser feitos hoje, dada a bagagem acumulada no currículo sonoro desse grupo.
A vocalista e guitarrista Karla Chubb é o epicentro de tudo. Letrista de mão cheia, ela é capaz de transformar questões de saúde mental, dores e angústias em palavras simples, porém contundentes. “This is a living nightmare/ And I am living so scared/ And I can’t sleep/ And I can’t breathe”, diz ela em “Can’t Get Enough Of It”. A catarse de versos como esse se intensifica com seu poder vocal, que traz à flor da pele emoções das mais profundas, como se elas chegassem ao ponto de ebulição e fossem liberadas de forma quase descontrolada.
As faixas herdam aquela dinâmica entre barulho e silêncio do indie dos anos 1990, unindo melodia e estrondo de forma potente para contar as histórias de Chubb. São faixas que parecem purgar a culpa católica de ser uma pessoa LGBTQI+ (“Cathedral”) ou falar de um recente diagnóstico de TDAH ( “A Wreck (A Mess)”), mas também celebram um romance queer em “Literary Mind”. Até mesmo o sexismo na indústria da música vira substrato para as letras em “Up And Comer”.
Se você gosta de nomes como PJ Harvey, Pixies e Fugazi (bandas citadas como influências para o que ouvimos em Letter to Self) mergulhe de cabeça na obra de Sprints. Tudo isso se encontra aqui de forma caótica e explosiva, mas com toda essa tensão contida comandada por Karla, que sabe quando colocar aquele refrão pra cantar junto e quando liberar sua verve em um uivo desenfreado.
(Letter to Self em uma faixa: “Adore Adore Adore”)