Resenhas

Taco de Golfe – Memorandos

Terceiro disco do (agora) duo sergipano explora a força dos loops e expande as possibilidades – e a emoção – do Math Rock

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Ano: 2021
Selo: Balaclava Records
# Faixas: 15
Estilos: Math Rock, Jazz, Rock
Duração: 36'
Produção: João Mário, Taco de Golfe

Memorandos, terceiro disco do grupo sergipano Taco de Golfe, marca um novo momento na carreira do agora duo, com Alexandre Damasceno (bateria) e Gabriel Galvão (guitarra). A saída de um integrante veio quase ao mesmo tempo em que a dupla assinou com o selo paulistano Balaclava Records, acontecimentos que ajudaram a moldar a nova estética alcançada neste projeto.

Originalmente um trio, contando com a presença de um baixo no hall de instrumentos, a banda passou por um processo de reinvenção com a saída de Filipe Williams e passou a explorar loops e outras técnicas para preencher as canções. O que a princípio parecia um revés tornou-se uma centelha de criatividade, levando a sonoridade do grupo adiante no novo disco – até mais ambicioso do que nó sem ponto II, projeto lançado no ano passado.

Ainda que este registro mostre Alexandre e Gabriel se encontrando no novo formato de banda, podemos observar uma evolução não só no escopo de estilos (trazendo ainda mais nuances rítmicas ao Math Rock usual da dupla), como também na expansão de ferramentas e truques para criar um som grandioso. Caso de “Vivendo Juntos”, faixa que marca a metade da obra e que investe numa sonoridade mais atmosférica, brincando com guitarras em loop, timbres mais soturnos e a supressão da bateria, criando algo como um Post-Rock.

Se o Math Rock é amplamente ligado à técnica (quase com uma codificação dos elementos polirrítmicos e acordes dissonantes), aqui o grupo consegue introduzir emoção à matemática. Como em “O Fio”, composição que por vezes parece ter sido criada por um Trio de Jazz dos anos 1950 (principalmente em sua segunda metade). Ainda que frenética (com quebras e levadas complexas), a bateria desempenha o papel de criar o suingue, enquanto a guitarra costura um clima classudo. Semelhante ao que acontece em músicas como “Bodoque” e “Vivendo Juntos pt. 2”.

Por mais ambicioso e em boa parte melhor conduzido do que seus antecessores, Memorandos tem algumas faixas, digamos, curtas demais. Certas composições parecem pedir mais tempo para se resolver em suas tramas, como “Eu Estava Lá, Em Pé”, que acaba em um fade out. Daí, também, a grande quantidade de tracks (15 no total), todas de curta duração (totalizando pouco mais de 36 minutos).

Procurando novas saídas criativas, o duo Taco de Golfe atinge um resultado que soa como um híbrido entre a crueza matemática de Don Caballero, loops e camadas do Battles e o tom orquestral dos japoneses do Toe. Forças díspares dentro de um mesmo gênero e que juntas apontam um mar de possibilidades a ser navegado dentro do Math Rock. E aqui, menos é mais.

(Memorandos em uma faixa: “O Fio”)

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ARTISTA: Taco de Golfe

Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts