Resenhas

Tuyo – Paisagem

Com produção refinada, terceiro disco incrementa os caminhos sonoros e poéticos do trio curitibano, colocando influências diversas a serviço de uma linguagem pop

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Ano: 2024
Selo: BMG
# Faixas: 10
Estilos: Pop, Eletrônica
Duração: 32'
Produção: Lucs Romero, VHOOR, Tuyo

Paisagem é o título do terceiro disco de estúdio do trio curitibano Tuyo, mas também o substrato que rendeu as ruminações presentes no registro. Depois de chegarem e ficarem presos dentro de casa em Chegamos Sozinhos em Casa (2021), lançado no período pandêmico, os três integrantes voltam com uma obra que tem a rua e novas aventuras vividas em outras paisagens como motor propulsor das narrativas. São reflexões que lidam com memória, tempo, amor, cura e infinito de maneira muito sensível – e num formato ainda mais pop.

Não são temas exatamente inéditos para a banda, porém, ao serem reexaminados aqui, ganham uma compreensão renovada e uma ampliação caminhos traçados. O tempo, temática recorrente desde Pra Curar (2018), volta em canções como “Devagar” e “Me Distraí”. São versos que lidam com a passagem temporal apressada nos versos “Ah, já tentaram me explicar mais de uma vez / Eu nunca entendo / Ah, é difícil eu não consigo acompanhar / Vamo mais devagar” ou “Me distraí com esse som aqui / Você sabe / Que eu não consigo parar de ouvir / Tem que repetir”. O infinito ou o olhar para essa imensidão sem fim retornam em “Infinita”, que, num misto de medo e êxtase, coloca o eu em perspectiva com o infinito – o quão gigante é nosso mundo interior ou o quão pequeno somos no exterior.

O disco ainda viaja pelo encantamento perante a vida na dobradinha “Maravilha” e “Paisagem”. A primeira pinta uma imagem das dores do crescimento, ao mesmo tempo em que traz provocações sobre originalidade e sobre estar aberto a se sentir maravilhado pelas coisas que a vida joga no caminho. A segunda, com a ótima participação de Luedji Luna, parece ancorar narrativamente a obra por meio de versos como “Eu senti que alguma coisa ia acontecer / De repente, num sussurro / Me ouvi dizendo ‘que vontade de viver’”.

Mas não é só de conexões com paisagens ou lugares que o disco é feito, e relações interpessoais aparecem nas dolorosas “O Que Você Quer” e “Tudo Volta”. A primeira repete o mantra “Machuca até não machucar mais / Consegue até não conseguir mais / Existe até não existir mais” enquanto divaga sobre o possível fim de um relacionamento (“Eu sou o que você precisa / Mas eu não sei / Se ainda sou o que você quer”). Já a segunda, música que encerra a obra, traz versos mais amargos no que parece ser um monólogo interno que uma pessoa deseja falar para a outra, mas nunca cria coragem o bastante ( “Um dia a gente vai se encontrar e cê vai perceber que o que cê fez pra mim também fez pra você / Um dia a gente vai perceber quando se encontrar que o que plantar pra si cê vai ter que colher”).

Musicalmente, o grupo acolhe novos timbres e propostas. Se o flerte com a música eletrônica esteve presente desde Pra Curar, aqui o trio abraça com mais força uma abordagem digital, ora pelo house (“Maravilha”), ora pelo jersey club (“Devagar”). Tal qual nos versos, a produção avista novas paisagens (incluindo até um xote moderno em “Apazigua”), sempre assumindo o desafio de entregar sensações diversas, seja a partir de VHOOR e seu groove dançante, da orquestração de Arthur Verocai ou das ricas colorações de Lucs Romero.

(Paisagem em uma faixa: “Paisagem”)

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ARTISTA: Tuyo

Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts