Resenhas

Vera Sola – Peacemaker

Segundo disco da cantora americana mantém o “country sinistro” da estreia, mas aposta em cenários mais grandiosos e dramáticos

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Ano: 2024
Selo: City Slang
# Faixas: 11
Estilos: Country, Pop
Duração: 44’
Produção: Kenneth Pattengale

A americana Danielle Aykroyd, cuja alcunha artística é Vera Sola, chamou a atenção com seu álbum de estreia, Shades (2018) – uma mistura entre elementos de folk e country dentro de uma estética sombria, abordagem próxima a de outras artistas de destaque como Angel Olsen.

Agora, Peacemaker chega mais ou menos na mesma linha de pensamento de seu antecessor – ou seja, evoca o imaginário rural com seu country sinistro –, mas aposta em cenários mais grandiosos e dramáticos. A música de Vera Sola parece ter uma visão herdada do romantismo: uma sensação de opressão que deriva do conflito humano que percebe a sua pequenez diante da magnitude da natureza.

A linha de ação de Vera Sola é o pop, mas o seu imaginário está no  country velha guarda de Lesley Gore, Judee Sill e especialmente Nancy Sinatra – ouça “Get Wise” em comparação com “Bang Bang”, por exemplo. A persona artística de Vera traz trejeitos que reforçam essa estética, falando com a voz sussurrada e sotaque interiorano, como se, para compor suas músicas, cavalgasse sozinha por planícies a perder de vista na fronteira com o Canadá.

Os clipes, as capas e, enfim, as imagens evocadas por Peacemaker, lembram as pinturas americanas do início do século 19, aquelas paisagens arrebatadoras feitas num momento histórico de expansão para o oeste que foi responsável por concretizar a identidade nacional dos Estados Unidos. Enfim, um sturm und drang estadunidense que traz aqueles cenários naturais – e aquela sombra que perpassa tudo isso – tal qual vemos em filmes como Ataque dos Cães ou Sangue Negro.

Peacemaker também atualiza o arquétipo da femme fatale para algo mais contemporâneo, sem soar maniqueísta, falando sobre corações partidos e planos de vingança. Vera Sola coloca essa qualidade mítica da fúria feminina, que nasce no espírito de uma mulher injustiçada, dentro de um cenário fértil, no country e no pop, mas eleva tudo para um nível mais dramático, quase teatral.

Produzido em parceria com Kenneth Pattengale, Peacemaker traz um som cristalino e conta com dezenas de músicos que contribuem para uma sensação orquestral. No entanto, o timbre das cordas e da percussão – e os cliques claques – arrematam um universo analógico, artesanal. No fundo de tudo isso, um reverb deixa tudo grandioso, como se estivéssemos ouvindo uma música tocada diante do abismo – literal e metaforicamente.

(Peacemaker em uma música: “Bad Idea”)

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ARTISTA: Vera Sola

Autor:

é músico e escreve sobre arte