A abertura “NÃO VOLTO MAIS” já estabelece a atmosfera de CIDADE TROPICAL PENSAMENTO, segundo registro do quarteto paulistano Viratempo. À medida que o álbum se desenrola, somos transportados para dentro de um mundo de sensações que já estavam presentes na estreia, CURA (2018), porém que agora ganham uma nova perspectiva. Se, no primeiro disco do grupo, os sintetizadores ofereciam conforto para um coração quebrado, aqui temos o groove como remédio para curar onde dói.
Depois deste início à la Jungle, continuamos com o suingue em “SOLAR”, canção que aponta o denominador comum de todo álbum: a brasilidade. Escorado em uma modernidade nostálgica, o grupo apresenta aqui referências a Tim Maia, Marcos Valle e Arthur Verocai em uma faixa cheia de balanço e timbres que parecem ter saído de um disco dos anos 1970, porém sem soar datado ou forçado.
A banda mostra bastante versatilidade no decorrer das 10 canções: há um tom orquestral em “TE QUIERO (que ainda abraça toques de neo soul e reggae)”; um Lo-Fi esfumaçado e envolvente em “PAUBÁ”; algo próximo ao city pop em “BESBE”; e um quase drum’n’bossa em “Tropical 08”. São músicas que, apesar de bem diferentes entre si, conseguem soar como uma unidade (até mesmo a vinheta “PARE”). São diversas ambientações que orbitam uma ideia do que é, ou do que pode ser, a música brasileira.
Liricamente, o disco traz algum otimismo em questões já abordadas em canções anteriores. Ainda há uma série de composições sobre amores desfeitos, porém o copo aqui está meio cheio, como se de alguma forma a tal “cura” do disco passado fizesse o interlocutor estar num lugar melhor, mais disposto a se libertar do passado. “Você vai me desfazer / Vai bagunçar o que sobrou de mim”, diz “SOLAR”, que, ainda assim, nos mostra alguém que parece estar pronto para se entregar a um novo amor.
A fusão entre elementos tropicais, soul brasileiro e uma pitada de música eletrônica cria uma sonoridade que é, ao mesmo tempo, familiar e inovadora. Para uma banda que está constantemente em processo de reinvenção – desde o neo folk dos primeiros anos, passando pelo dream pop de CURA –, CIDADE TROPICAL PENSAMENTO representa um passo natural, mas ousado, além de demonstrar a solidificação de uma identidade musical calcada na constante soma de elementos.
(CIDADE TROPICAL PENSAMENTO em uma faixa: “SOLAR”)
