A versatilidade de Sinkane sempre foi algo que me chamou a atenção. Tendo trabalhado ao lado de bandas como Yeasayer e Caribou, dois nomes também conhecidos por tal característica, e ainda trabalhando sob o selo DFA Records, cuja assinatura pouca relação direta tem com seu som, era difícil que esses valores não lhe seguissem em seu projeto “principal”.
Em Mean Love, o sudanês/morador do Brooklyn Ahmed Gallab talvez tenha a prova definitiva do quanto a popularidade de um artista ou disco, pouco tem a ver apenas com a música. Pegando emprestado de estilos Africanos, da Psicodelia, da Dance Music e até da Tropicália, o músico criou um disco extremamente Pop, e de uma maneira mais universal, sendo acessível independente dos referenciais regionais de quem o escuta, tamanha a familiaridade com a diversidade colhida para formar seu leque de influências. Mesmo assim, o artista parece sempre se manter desconhecido do grande público, ganhando uma porçãozinha nova de ouvintes a cada lançamento – parece que algumas rádios gringas tem tocado How We Be por aí -, mas mantendo sua relevância para alguns poucos e bons fiéis.
As três faixas que são os carros-chefe do trabalho – How We Be, New Name e Hold tight -, diferente do que acontece em muitas outras obras, não resumem o que pode ser encontrado no disco. A complexidade de Sinkane está justamente nesse desapego aos padrões e aos rótulos.
O mais legal, é que essa versatilidade não vem com aquele engajamento de quem não quer se encaixar, mas de uma forma natural, representando a maneira como o músico vê o mundo. Ao mesmo tempo, é esse desprendimento que parece criar uma barreira para o deslanchar de sua carreira – que também não acredito ser algo que ele busque -, já que Sinkane passa a não ser a “cara” de nenhum estilo, assim como Blood Orange é para uma vertente do R&B contemporâneo ou Toro y Moi é para o som facilmente identificável que faz.
Mean Love é, infelizmente, um daqueles discos que se tornam uma relíquia na discoteca de alguns, que apresentarão orgulhosos aos amigos o novo nome que descobriram – e estes, independente do histórico musical, irão curtir -, mas que não existe para alçar voos mais altos e este tipo de proposta tem ganhado mais minha simpatia a cada dia. É bom poder ouvir um disco sem saber de antemão o que você precisa pensar sobre ele – entendedores entenderão -, e melhor ainda se for impecável, eclético e divertido como o trabalho de Ahmed Gallab.