Resenhas

Museum of Love – Museum of Love

Estreia do duo mantém o legado da Dance Music atual intacto

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Ano: 2014
Selo: DFA Records
# Faixas: 9
Estilos: Dance Music, Disco
Duração: 41:00
Nota: 3.5
Produção: Pat Mahoney, Dennis McNany

Lembro-me de afirmar em 2012 que o último disco de Hot Chip, In Our Heads, era a prova de que alguém deveria ocupar o posto da mistura entre Indie Rock e EDM feita pelo então encerrado LCD Soundystem. O excelente trabalho colocava frente a frente ambas as bandas, mas com a simples diferença de uma estar em atividade e a outra não. No entanto, a herança deixada por James Murphy e companhia se mostrou muito mais viva nestes últimos dois anos. A música Eletrônica, não é novidade para ninguém, expandiu seus nichos e hoje dificilmente não está envolvida em alguma parte do processo criativo musical.

Entretanto, uma coisa é produzir eletronicamente e outra é criar música Eletrônica. Vindo da DFA Records, selo comandado pelo mesmo Murphy e que tem entre seus recentes lançamentos The Juan Maclean e Sinkane, exemplos de que o ciclo não se encerrou junto com LCD. Deste mesmo bando, vem Museum of Love, duo formato entre o ex-baterista do Soundystem, Pat Mahoney, e Denis McNany, outra figurinha carimbada do selo. O auto-intitulado álbum segue as mesmas diretrizes passadas e traz faixas dançantes instrospectivas, mas igualmente progressivas. Um trabalho menos direto, mas nem um pouco tedioso.

Enquanto Pat Mahoney faz as frentes das baquetas e das batidas eletrônicas, Denis cuida dos samples e sintetizadores, sendo ambos parte importante dos trabalhos de voz – o primeiro principal e o outro secundário, nos backing vocals. O timbre de Pat, que não é necessariamente um falsete, oscila entre cada música e sempre cria um lado atmosférico, unindo suas melodias às harmonias musicais. A sensação, no entanto, seja na misteriosa Down South ou na dançante In Infancy, é sempre do progresso a partir de crescendos. O som parece tomar sua evolução natural, sendo cuidadosamente inserido por elementos externos – um teclado, um naipe de sopros ou samples de coros de vozes – talvez o grande legado de LCD Soundsystem em suas construções ordenadas esperando pela explosão.

No entanto, enquanto este se tornava apoteótico, Museum of Love é um pouco mais contido, mas tão empolgante quanto, parecendo uma linha natural de inspiração a Pat, obviamente. Sua voz atua de outra forma e tem um de seus melhores momentos na excelente The Who’s Who of Who Cares, quando se torna mais grave e incisiva a sua atuação, lembrando bastante as levadas de voz que David Bowie teve em discos clássicos como Aladdin Sane, mas indo para um lado instrumental mais New Wave, como Talking Heads costumava entregar. Divertidíssima, traz o progresso intimista que acompanha todo o disco para poder finalmente explodir em uma grande festa lá pelos 4 minutos. Sexy, nada banal, a faixa é o corpo central da obra.

O lado obscuro construído pelas batidas o traz um pouco distante do lado festeiro de LCD, procurando a instrospecção à euforia – Learned Helplessness in Rats (Disco Drummer) é uma viagem lisérgica sintética, enquanto Monotronic é ainda mais contida. O Garage de The Large Glass, um exercício eletrônico com os pés nos anos 1980, é provavelmente a melhor música de todo o disco, possuindo um lado Punk colérico divertidíssimo, tempo acelerado e coração palpitante. Pat se torna uma espécie de Ian Curtis, com uma voz gravíssima esperando que um bate-cabeça se forme no meio de uma pista de dança – psicótica, é o momento mais interessante da obra.

É inegável não lembrar de LCD Soundsystem do começo ao fim do disco e Museum of Love não é justamente uma cópia de seu par musical, mas uma continuidade do movimento. Para os fãs da DFA Records e de James Murphy, o disco é um prato cheio, mas sem muitos recortes que o levem para um patamar acima – a roda não está reinventada, apenas adaptada a novas circunstâncias. Não surpreende, porém também não decepciona e mantém o nível musical do selo em 2014, quando brilhou em diversos lançamentos.

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Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.