Resenhas

Champs – Vamala

Segundo álbum do duo inglês traz fusão de Folk com Pop e boas melodias

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Ano: 2015
Selo: Play It Again Sam
# Faixas: 12
Estilos: Folk Pop, Folk Eletrônico , Folk Alternativo
Duração: 41:03
Nota: 3.0
Produção: Dimitri Tikovoi

Os irmãos Michael e David Champion estão na ativa sob a simpática alcunha de Champs há pouco mais de um ano e já lançam seu segundo álbum. Se o anterior, Down Like Gold, os posicionava como artistas interessados numa releitura simples de nuances do Folk anglo-americano, Vamala é uma interessante mudança de curso. Sai a instrumentação tradicional (piano e violão) e entram teclados e baterias elegantes, que dão às canções um colorido mais nítido, propondo algumas incursões pelo terreno do Pop mais clássico, sem os excessos da pista de dança ou das festas, mas oferecendo um pouco de ar urbano para uma respiração com mais fôlego.

Oriundos da Ilha de Wight, palco de um dos mais tradicionais festivais musicais do planeta, a dupla cultiva certo ar de esquisitice, talvez por passar a maior parte do tempo na insulana cidade Newport, longe de tudo e a meio caminho entre Dover, na Inglaterra e Calais, na França, em pleno Canal da Mancha. A ideia de oxigenar suas canções veio junto com a escolha do produtor francês Dimitri Tikovoi, que já pilotara estúdios para gente como Placebo e Goldfrapp, artistas que também têm a música urbana, moderna e de bom gosto em suas ordens do dia. O produtor, além de baterista, conferiu esta dinâmica ao novo álbum e sua presença já se faz sentir logo na primeira canção, Desire, com pinta de hit oitentista de gente infelizmente esquecida, como Bronski Beat, equilibrando sentimento e melodia entre dedilhados de violão, teclados em crescente e batidas que seriam Tecnopop se não fossem impulsionadas pela mão humana. Há até uma discretíssima citação do fraseado tecladeiro de Smalltown Boy, hit de Bronski em 1984.

O disco funciona muito mais nestes momentos de cruza entre a ambiência tristonha das melodias/letras da dupla e os arranjos. Outro bom exemplo é na clássica Pop song Sophia, com teclados imitando cordas e bateria em ritmo baladeiro 4/4 tradicional, além de vocais que lembram alguma gravação setentista de Bee Gees, pré-Embalos de Sábado À Noite. Running também tem pontuação de efeitos eletrônicos discretos e guitarra crocante/contida, com crescente vocais dobrados e pianos grandiloquentes marcando a melodia. A faixa título é outro bom exemplo dessa categoria, já com bateria marcial e vocais em falsete, que poderiam novamente lembrar o trio australiano. A melhor canção, no entanto, é 3000 Miles, com progressão de bateria/baixo, vocais e guitarras que lembram canções setentistas AOR com alta rotação nas emissoras de FM de outro tempo.

Quando Champs tenta emplacar as canções mais lentas, comete pequenas derrapadas. Send Me Down, apesar da interessante alternância de vocais grave/agudo, tem melodia banal e arranjo de cantoria em volta da fogueira, beirando a chatice. The Balfron Tower também abusa da dramatização mas traz uma bonita harmonização vocal da dupla, enquanto Down (Alone On The Avenue) se vale de uma solenidade tecladeira e minimalista com palmas sintetizadas para passar uma noção de solidão/redenção que pode cansar.

Colocando Vamala na balança e pesando prós e contras, teremos, ao fim e ao cabo, um bom disco e uma promessa para o futuro porque Champs tem noção de composição, melodia e alta produtividade em termos de composições. Talvez voltem em menos de um ano com um trabalho ainda mais aprimorado.

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.