Resenhas

Ron Sexsmith – Carousel One

Novo álbum do cantor e compositor canadense capricha nas belas melodias

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Ano: 2015
Selo: Cooking Vinyl
# Faixas: 16
Estilos: Alt. Country, Folk Rock, Rock Alternativo
Duração: 51:13min
Nota: 4.0
Produção: Jim Scott

Ouvi falar em Ron Sexsmith pela primeira vez num exemplar noventista (lá de meados da década) da finada revista Showbizz. O texto que o apresentava (cujo nome do autor me escapa), enaltecia as qualidades de cantor/compositor do jovem canadense, colocando-o como herdeiro de uma nobre tradição de mestres como Elvis Costello e Paul McCartney. Quase vinte anos depois disso, Ron continua com a mesma cara de efebo, mas esconde um catálogo de idiossincrasias que o credenciam para o seu abraço auricular, prezado/a leitor/a, muito porque o sujeito transita com descoletagem suficiente pelos terrenos mais sisudos da ourivesaria Folk mais tradicional mas é capaz de turbiná-la com toques Pop e ainda promover um ataque simpático de banda de estúdio com pinta de conjunto de bar americano de beira de estrada. Além disso, há espaço para letras tristonhas, reflexões sinceras e contemplação musical de primeira categoria.

Carousel One é seu 14º álbum e retoma os deveres em sua área tão peculiar de ação, após dois discos diferentes, no qual Sexsmith flertou com o Rock mais grandioso em Long Player Late Bloomer, de 2011 e Forever Endeavour, de 2013, no qual retornava ao estúdio após tratar um câncer na garganta, surgido logo após registrar o trabalho anterior, cheio de canções sobre mortalidade. Ainda que tenha surfado em algumas ondas além de sua zona de conforto musical, Ron é forte nas observações do cotidiano, como aquele sujeito de meia idade, relativamente misterioso e solitário, que vira a esquina de forma casual, mas que está sempre atento a tudo. Suas canções são belas e sofridas. Com a presença de um produtor de Rock no estúdio, no caso, Jim Scott, que já trabalhou com gente como Wilco e Foo Fighters, era de se esperar que Sexsmith viesse com um pouco mais de peso, mas a habilidade de Scott em se adaptar às características da pena de Ron é notável. Sua presença confere mais foco aos arranjos, além de ser responsável por arregimentar uma banda de músicos tarimbados de estúdio, com passagens em trabalhos de Bob Dylan e John Lee Hooker, entre tantos outros.

A música de Ron atinge níveis altos com uma característica rara, que a de suscitar lembranças sonoras de outros tempos com extrema sutileza. Um exemplo: no meio do disco está a terrivelmente bela Nothing Feels The Same Anymore, balada dilacerada sobre a passagem do tempo, as mudanças da vida, sobre aquele dia em que você acorda e vê que o seu amor já não é o mesmo de antes e, pior, provavelmente não o é já há bastante tempo e você não sabe o que fazer quanto a isso. Enquanto pensa, sem que perceba, tudo à sua volta mudou e o som que vem de sua mente é essa mistura perfeita de “Country’n’fossa”, balada Soul sutil e música que tocava no rádio há um bom tempo, cujo título você não lembra mais. É tudo muito belo, pungente e, ao que parece, espontâneo no modo de composição de Sexsmith.

Não há o predomínio de músicas tristes ou alegres ao longo de Carousel One, mas um equilíbrio saudável. Tem canção de bebedeira em Getaway Car, percussão insuspeita na condução de Lucky Penny, cuja melodia é um beijo no rosto de tão amorosa. Há tangência dos acordes do clássico I’m Not In Love embutida na belezura que é Sun’s Coming Out; a springsteeniana Can’t Get My Act Together, com pianos, órgão e andamento rápido para uma dança no meio do bar e a balada derramada e superlativa que habita em All Our Tomorrows. Coisa fina.

Com sensibilidade para batizar o álbum em remissão à esteira de bagagens do Aeroporto de Los Angeles, onde costumava pegar suas malas quando chegava de Toronto, Ron Sexsmith é desses caras que teriam séquito de fãs nos anos 1970, mas que, felizmente, permanece como um tesouro de poucos e bons. Você tem tudo para se juntar a essa galera, vem logo.

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.