Resenhas

Lisa Hannigan – At Swim

Cantora e compositora irlandesa entrega melhor álbum de sua carreira

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Ano: 2016
Selo: ATO
# Faixas: 11
Estilos: Folk, Folk Alternativo, Singer-Songwriter
Duração: 39:38
Nota: 4.0
Produção: Aaron Dessner

Cá estamos nós no terceiro álbum desta bela e competente cantora irlandesa, Dona Lisa Hannigan. Sabemos que ela começou a carreira cantando com Damien Rice, na época em que ele estourou para mundo a bordo do hit The Blower’s Daughter mas enveredou por uma carreira solo interessante a partir de 2008, quando soltou seu primeiro disco, See Sew. Desde então, a moça vem caminhando com desenvoltura no terreno que lhe é familiar, o Folk lírico e plácido, com belas canções revestidas por violão e piano, instrumentos que ela domina, além da bateria. Com simplicidade mas sabendo da necessidade de fornecer adornos e acepipes às suas criações, Lisa chega neste bom At Swim, seu terceiro trabalho, com um clima ainda mais cinematográfico e permeado por músicas que alguém na imprensa gringa definiou como “aquáticas”, algo que não é totalmente viajante, uma vez que a atmosfera do disco é sombria, fluida, vespertina…

Na pilotagem do estúdio está Aaron Dessner, figura carimbada desta cena de músicos Folk. Integrante de The National, Aaron tem participando de vários álbuns de vários artistas desde o fim dos anos 2000, sempre com bom faro para viabilizar seus trabalhos, bem como fixar seu nome como um produtor confiável e discreto. Ele não procura imprimir uma marca registrada em suas participações, deixando o artista/banda à vontade para encontrar sua própria sonoridade. No caso de Lisa, o que temos aqui é um trabalho belo e com seu próprio ritmo. Há canções extremamente bonitas, que seguem por uma lógica de lentidão pensada, sem pressa para terminar, porém sem nenhuma que extrapole a marca do bom senso em termos de duração.

Tudo por aqui tem formato de canção Pop, não passando da marca de cinco minutos. Pianos e violões, como já dissemos, dão a tônica por aqui. Seria injusto, no entanto, não ressaltar o elemento principal do álbum, que é o belo registro vocal que Lisa imprime. Na segunda canção, Prayer For The Dying, um amálgama de cordas e teclas conduz sua voz por um ambiente estéril e outonal, com um andamento que, talvez por sugestão do título, sugere um cortejo fúnebre ou alguém andando por uma floresta de árvores secas e cheia de folhas amarelas sobre o chão, talvez pensando em alguém que já se foi, ou desde plano ou de sua vida. Há influência nítida de Tori Amos na faixa seguinte, Snow, na qual Lisa usa sua voz em escalas mais agudas e em vôos mais altos. Violinos e órgãos pontuam a bela melodia e sugerem mais desolação, porém com algo emocional bastante forte.

Canções como Lo sugerem um ambiente atemporal. Não há qualquer prova possível de que estas músicas foram registradas em 2016 ou em 1916, tamanho o sentimento de permanência que é suscitado. A impressão é de que são faixas que estiveram sempre presentes em nossas vidas. Undertow, por sua vez, tem certa quentura de casa, de amor, com Lisa abrindo os versos com um sensual I wanna swim in your current, num painel melódico que se ergue com vozes entrecruzadas, um bandolim/banjo onipresente e várias impressões que vêm de todos os cantos da canção. O mesmo som de piano volta em Ora, que é misteriosa como seu título, sugerindo alguma alusão espectral, de ventos e folhas pelo ar. We, The Drowned é mais soturna, na qual a voz de Dolores O’Riordan, de The Cranberries, é o modelo inspirador mais próximo. Só que os excessos dela são elegantemente evitados/esquecidos por Lisa, que se sai muito bem.

Anahorish tem pouco menos de dois minutos e traz apenas a voz da moça, devidamente multiplicada e colocada em vários planos, dando espaço para a inquietante Tender, com sua percussão oblíqua e tons escuros, mas que são acompanhados por uma progressão de voz e melodia leves, causando um contraste interessante. A morte é novamente tema em Funeral Suit, que pega pianos e bateria discreta para uma melodia que não pode deixar de ser triste. Barton, com um bem vindo toque eletrônico em sua estrutura, é o encerramento solene, belo e digno deste lindo trabalho de Lisa Hannigan. Tudo funciona por aqui, com elementos elegantemente colocados em sua paleta de cores. Sim, são tons cinzentos e brancos, gelados, mas que se fundem em tonalidades surpreendentes. Um álbum excelente, que leva a carreira de Lisa a um novo patamar.

(At Swim em uma música: Lo)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.