Resenhas

Juliette Lewis – Future Deep

Atriz e cantora retorna com EP privilegiando o Rock

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Ano: 2016
Selo: Independente
# Faixas: 7
Estilos: Rock, Blues, Garage Rock
Duração: 24:49
Nota: 3.0
Produção: Juliette Lewis, Isabella Summers, Brad Shultz, Jared Champion e Matthan Minster

Sempre que leio algo a respeito de Juliette Lewis, torço mentalmente para que ela tenha conservado algo da personagem de Cabo do Medo, filme no qual ela contracenava com Robert De Niro. Se você nunca viu, recomendo, não só por ela, então com uns 17 anos, no máximo, mas pela história, que é sensacional. Pois bem, esta é uma nota mental afetuosa para Juliette, digamos, fora do seu espectro musical. Quando as primeiras notícias de que ela havia iniciado uma trajetória como cantora e, mais ainda, que abraçara o Rock garageiro/esporrento/guitarreiro de beira de estrada, confesso que tudo fez sentido. Esta imagem musical é uma espécie de tradução da própria imagem da moça. Tudo bem, pode ser uma pequena viagem do articulista, mas, creia, isso faz bastante sentido, pelo menos em sua mente.

O fato é: Lewis volta agora, depois de um bom tempo sem gravar nada, com um EP de sete faixas. Após fazer parte do grupo The Licks, ela assina as canções, divide a produção com Isabella Summers (Florence + The Machine) e três integrantes do grupo americano Cage The Elephant, mostrando que está sintonizada com os rumos que o Rock tomou nesses últimos tempos. Mesmo com essa galera, a música que Juliette produz guarda parentesco com este espectro setentista-sujão de Rock empoeirado e mau. Não é um som para fracos ou detalhistas de almanaque, pelo contrário: é música para ouvir pulando, suando, bebendo, fazendo maldade. Não é exatamente bem tocada ou detentora de preciosismo na produção ou técnicas apuradas no manejo dos instrumentos, é tudo mais ou menos na base do “1, 2, 3 … e gravando!!”. É assim que tem que ser, gente.

Nada disso seria interessante se não houvesse boas canções nesta empreitada. Qualquer desconfiança é desfeita logo no primeiro minuto da faixa de abertura, a calorenta Any Way You Want, que entra com o pé na porta e empreende uma pequena blitz no ouvinte, não sem abrir mão de um potencial dançante implícito, algo que Lewis vai carregar por quase todo o EP. No mesmo espírito vem a segunda canção, a boa Losing My Mind, que insere alguns elementos de psicodelia sessentista na mistura, com boa mão pra tempero. Há espaço para alguns Blues no sentido Janis Joplin do termo, com bom trabalho de órgão e um clima “new vintage”, que funciona bem. A faixa-título poderia soar meio fora de lugar, com uma programação eletrônica de bateria, mas ostenta guitarras funkeadas e a maior tendência dançante dentre todas as faixas. Hello Hero lembra algo da produção atual de Rolling Stones, boa e suingada, abrindo caminho para uma faixa não muito legal, a truncada Mean Machine. O fecho vem com cinematográfica e angustiada Ode To Hollywood, com a impressão que Juliette uiva para uma lua avermelhada.

Future Deep é encorpado, invocado, encardido e cheio de sustança, mostrando que essa mulher pode estar voltando com tudo para a música e, quem sabe, finalmente encontrando uma posição legal a partir da qual possa erguer uma carreira menos aleatória. Esperamos e torcemos por isso.

(Future Deep em uma música: Anyway You Want)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.