Matt Martians e Pyramid Vritra, integrantes do projeto The Jet Age of Tomorrow, são duas crias do coletivo Odd Future, incubadora de algumas das mentes mais malucas e criativas da música norte-americana nos últimos anos. É de lá que saíram, por exemplo, nomes como Tyler The Creator, Syd e Frank Ocean.
Enquanto coletivo, Odd Future perdeu sua força, mas as sementes plantadas pelo projeto hoje em dia florescem vigorosas em sua individualidade. Tanto é que este God’s Poop or Clouds?, um álbum cheio de respiro, fluidez e inventividade, parece um projeto menor de seus integrantes.
O álbum vem na sequência de The Jellyfish Mentality e, assim como seu antecessor, soa como um “exercício de produção” marcado pela pluralidade. O nome bem humorado sugere algo tosco, de forma indefinidas, que mudam constantemente de aspecto. E é de fato essa a impressão final que ele suscita: a de um trabalho feito sem falsos pudores, marcado pelo liberdade, um pouco afrontosa, cheio de mixagens toscas, timbres estourados e, enfim, rebarbas que não foram aparadas, mas que celebra as possibilidades desta bagunça sonora.
É um pouco de displicência, mas é também uma marca da liberdade, sendo que o trabalho parece ser mais uma válvula de escape criativa da mente borbulhante de seus integrantes do que uma obra bem acabada. Pode ser cansativo de ouvir, pois a produção é ansiosa, muda de cara sem parar, soando repetitiva em sua hiperatividade (ao final da segunda faixa The Long Way Home, por exemplo, o álbum já atravessou quatro ou cinco climas distintos).
God’s Poop… é Hip Hop experimental, marcado pelo Jazz de Matt Martians, pelo groove da família Bruner (leia-se Thundercat e seu irmão Ronald) e exala um tempero de toda essa nova geração da qual fazem parte também, vejamos, Steve Lacy, Cosmo Pyke e assim por diante. Feito para ouvir sem grandes pretensões, é um exercício interessante para desanuviar os pensamentos e descomprimir os ouvidos.
(God’s Poop or Clouds? em uma música: The Long Way Home)
