Resenhas

Rubel – Casas

Segundo registro do carioca mostra referências brasileiras em sua nova identidade

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Ano: 2018
Selo: Natura Musical
# Faixas: 14
Estilos: Pós-MPB, Samba
Duração: 47'
Nota: 4.5

“Eu não quero fazer um outro Pearl, no sentido de ser produzido lá fora com um nome em inglês”, disse Rubel ao Monkeybuzz em uma entrevista sobre seu segundo disco. Com essa frase na cabeça, ouvir Casas se torna uma experiência diferente. É possível sentir que o músico carioca parece buscar uma espécie de antítese àquele Folk (se é que podemos chamar estritamente de Folk) presente em seu primeiro álbum nas raízes da Música Brasileira. Um misto de reverência e humildade perante aos grandes nomes de nossa música cria o alicerce desse seu viciante segundo registro.

Na mesma entrevista, Rubel diz que compor Pearl foi um processo mais visceral, enquanto esse novo disco é algo mais cerebral, mais pensado e criado num processo diferente. Essa afirmação também nos faz olhar o trabalho de forma diferente, vendo que o músico busca racionalmente as referências e sonoridades que traz à obra. A vibe voz e violão de outrora dá espaço pro Samba, MPB e até mesmo Rap, que se mesclam no álbum assim como se misturam nesse caldeirão cultural chamado Brasil. Mais que uma reverência ao passado, esse trabalho é também um recorte do nosso presente, em que esses ritmos não só coexistem, como também criam uma espécie de simbiose.

O título Casas parece ser uma referência direta aos lugares que ele mais gosta no mundo: sua própria residência ou a de seus amigos e familiares. Nesse ambiente de pura intimidade, o músico parece bem à vontade para explorar sua privacidade e revelar coisas bem pessoais, como ele mesmo diz, coisas que nunca pensou em contar para outras pessoas. Rubel canta histórias recheadas de uma amálgama entre nostalgia e pessoalidade, como se o ouvinte fosse um dos amigos do músico que vem visitá-lo em sua casa e cada cômodo rendesse uma lembrança ou narrativa diferente.

Colégio, música que abre o registro, é um relato do passado, das vivências agridoces dos tempos de escola; Pinguim é uma narrativa amorosa cantada em um “Samba torto” quase como uma conversa bem-humorada com aquele que ama; Santana, que por sua vez encerra a obra, é uma espécie de síntese de sentimentos presentes no álbum, como se, pelas palavras do próprio músico a união “de alegria, de tristeza, de descoberta, de certeza e incerteza, de amores, amizades, trabalhos, explosões” pudessem se “transformar em som e espalhar pelo mundo”: o romantismo, dessa vez, bem explícito volta com a bela Partilhar, na qual Rubel parece finalmente agir depois da grande melancolia de Quando Bate Aquela Saudade (de Pearl); Casquinha é também um ponto de destaque do disco, quando Rubel fala sobre o próprio processo de fazer música, de errar e acertar, de experimentar, dos medos da criação. Um exercício ao mesmo tempo íntimo e corajoso.

A presença do Rap também é um fator importante na construção desse disco. Talvez, nem tanto pelas ótimas participações de Emicida (em Mantra) e Rincon Sapiência (em Chiste), mas pela forma como a produção do Hip Hop foi integrada ao jeito de criar música pelo artista. Pensar a canção como uma obra em si, como um algo próprio mais que um capítulo dentro de uma compilação parece ser uma das lições que Rubel aprendeu com o estilo. Soma-se a isso às infinitas possibilidades trazidas pela presença de beats eletrônicos em conjunto de sua banda e o misto eletro-acústico do músico está completo. Abraçar essas raízes negras, seja no Hip Hop ou no Samba, vem de forma sútil, acompanhada de bastante respeito e muito longe de qualquer protagonismo forçado.

São quatorze faixas, quase 50 minutos de uma experiência de bastante verdade e honestidade vinda do músico carioca. Casas se torna um um sucessor e tanto de Pearl, um disco que serviu para colocar Rubel no mapa e angariar diversos fãs pelo Brasil, mas ainda sem uma cara realmente própria. Seu segundo registro parece um passo em direção a essa nova identidade, agora com mais essência e com os pés bem fincados no Brasil, no Rio de Janeiro, na sua casa e nas suas referências.

(Casas em uma faixa: Casquinha)

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BOM PARA QUEM OUVE: Castello Branco, Los Hermanos, Cícero
ARTISTA: Rubel
MARCADORES: Ouça, Pós-MPB, Samba

Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts