Se você nunca ouviu falar em Big Star, pare de ler aqui mesmo e vá agora procurar os três discos da banda para se informar devidamente. Já achou os álbuns? Ouviu pelo menos os dois primeiros? Agora sim, podemos continuar.
A lendária banda de Memphis, Tennessee, forjou, talvez sem querer totalmente, a base sonora para um enorme número de conjuntos e artistas que vieram, ao longo dos anos 70, 80 e 90, pavimentando um caminho que unia a doçura Beatle e o amargo do desencanto pós-hippie a um certo flerte urbano com Soul e Country, como se não fosse possível evitar suas presenças. Gente como Teenage Fanclub, Jeff Buckley, R.E.M., The Replacements, Wilco, Jayhawks e Elliott Smith, entre muitos outros, vieram, com apropriações aqui e ali, tentando recriar sua própria versão dessa sonoridade tristonha-mas-luminosa que Big Star criou.
Apesar da beleza cortante de discos como #1 Record, Radio City e Big Star Third/Sister Lovers, a banda jamais decolou ou fez sucesso em seu tempo. Suas canções permaneceram privilégio de poucos e bem informados fãs, que mantiveram o nome falado aqui e ali. Para que essa lacuna terrível seja preenchida para sempre, um documentário chamado Big Star: Nothing Can Hurt Me, tem estréia prevista nos cinemas do Hemisfério Norte ao longo deste ano (devemos rezar para que algum festival nacional o inclua em sua programação). Dessa forma, a história do encontro de Alex Chilton, ex-soulboy dos Box Tops, com o guitarrista/trovador Chris Bell, trazendo o choque de visões distintas e/ou opostas pelo vértice, que deu origem à banda, será de conhecimento do maior número de pessoas possível. Além deles, Jody Stephens e Andy Hummel, na bateria e baixo, respectivamente, completavam a formação clássica e inicial da banda. Bell morreria em 1978 num desastre de automóvel, jamais testemunhando qualquer indício de sucesso em sua carreira.
A revista Rolling Stone incluiu os três discos do Big Star em sua lista de 500 álbuns de todos os tempos e, em termos críticos, a justiça já começa a ser feita. Esta trilha sonora é um verdadeiro tesouro, complemento perfeito para a caixa quádrupla, Keep On Eye In The Sky, lançada em 2009, que cobria toda a carreira da banda, além de trazer gravações inéditas ao vivo. Esta nova compilação traz mixes novíssimos, feitos especialmente para o documentário, como Better Save Yourself, I Am The Cosmos (Chris Bell solo), September Gurls e All We Ever Got Was Pain, além de mixes alternativos e inéditos para clássicos como Thirteen, The Ballad Of El Goodo, uma demo crocante de O My Soul e outras belezas, num total de 21 faixas.
Essa trilha pode servir como sua porta de entrada para o mundo do Big Star e sua saga nas margens do sucesso e reconhecimento. É uma jornada de dor e redenção, mas que merece ser do conhecimento geral tamanha a beleza e importância da música que esses sujeitos criaram.