O show que Autoramas e BNegão proporcionaram aos fãs no Rock In Rio não deixa dúvidas sobre o entrosamento que esse pessoal possui. Veteranos na cena independente carioca, Gabriel Thomaz, Bacalhau e BNegão têm backgrounds semelhantes. O primeiro tocou no Little Quail And The Mad Birds por muito tempo, gravando dois discos . O segundo tocou com o terceiro no Planet Hemp. A baixista Flávia Couri é que coloca esses sujeitos nos eixos, com sua graça e competência.
Auto Boogie é um EP de quatro faixas, no qual o grupo e o rapper mostram o quanto podem apresentar música Pop/Rock dançante de qualidade, com ótimas sacadas e sem cair numa mesmice/fundo do poço/falta de criatividade, que assolam nossa cena nacional do estilo. Entre as quatro, apenas a faixa de abertura O Giro é novidade. O resto é inteligência e malandragem a favor do rock.
São três covers: Kiss, de Prince, vem com toques de baile charme do Viaduto de Madureira (reduto da Zona Norte do Rio) que mantém intactas as tradições black/dançantes dos anos 70. Seria só isso se não houvesse o molho guitarreiro e o clima de garage soul imposto pelo choque das duas tendências. Em Walk On The Wild Side, a voz de Flávia conduz a letra de Lou Reed em consonância com o original mas o clima é adulterado pelos versos de “Enxugando Gelo”, faixa título do primeiro disco de BNegão, lançado em 2003. Fechando a sequência, 1,2,3,4, faixa do primeiro disco do Little Quail And The Mad Birds, reaparece com cara de 2013, mas corpinho de anos 90, quando foi lançada originalmente.
Tudo é feito com carinho, dedicação e tesão, mostrando que rock, ou melhor, rrrrrock, é negro, é pra dançar e pode ser feito em 2013 sem que hajam muitas concessões ou violências. Autoramas e BNegão combinam, “dão liga” como já se falou e apontam para um maravilhoso futuro do pretérito rock’n’roll que vai dar o que falar. Ainda bem.