A$AP Rocky é o principal nome à frente de A$AP Mob, um dos mais proeminentes coletivos de Rap dos últimos anos. Sendo a cara do projeto, sua figura é a incorporação dos valores novaiorquinos: possui uma visão cosmopolita da música, está antenado com as novidades da indústria e, acima de tudo, possui um senso fashion apurado. A glória recente de seu currículo é ter adentrado a paragem mais cobiçada pelos rappers empreendedores do momento: a arte contemporânea.
TESTING vem escrito com letras capitais como manda o estilo musical, já que no jogo do Rap parece existir uma competição entre seus integrantes maiúsculos. O trabalho, de acordo com o próprio artista, nasce de um desejo de se fazer alguma coisa, sem saber muito bem o quê, partindo apenas da confiança no seu senso estético. Em outras palavras, A$AP Rocky quer testar o alcance da sua capacidade de curadoria musical, de articular o que interessa para o Hip Hop do século 21.
O resultado é heterogêneo. Praise The Lord (Da Shine), parceria com o inglês Skepta, oferece um flow acessível, de batidas instantâneas e envolventes: é música feita para ser consumida, e funciona dentro da proposta. A$AP Forever REMIX traz à cena um sample de Moby que, infelizmente, pouco faz a favor das faixas, seja a de Rocky ou a original, já que basicamente depende da referência para sobreviver. Purity, por sua vez, assume a influência de Frank Ocean, estabelecendo um clima metálico, sintético e de cores millennial que incorpora uma extroversão bem vinda ao trabalho.
Já OG Beeper oferece os versos “My whole life I just wanted to be a rapper/Then I grew’d up and the boy became a rapper”. Se a rima é pobre, as implicações são piores, pois denota que a trajetória de vida do artista é uma linha reta, homogênea, sem subjetividade. Não parece que esses versos chamem atenção è toa: sintomas de retidão de superficialidade sobressaem de TESTING, um álbum que tenta emular algumas tendências do momento, mas cujo alcance de referências não vai muito longe.
Entre a auto propaganda e uma vontade legítima de experimentar, é uma pena que TESTING não seja um trabalho mais vulnerável. Ou seja, que sua proposta assumida de quebrar a cara (a identidade visual do álbum é baseada em bonecos de teste de colisão) venha com uma carga pretensiosa da performance art, executada sem o olhar atento que merece. Ainda mais em um momento em que o Rap parece finalmente entender que vale mais a pena falar de cara limpa com o seu público do que incentivar a publicidade megalomaníaca em torno de si mesmo.
(TESTING em uma música: Praise The Lord (Da Shine))