Resenhas

Ariana Grande – eternal sunshine

Sétimo disco da cantora revisita diferentes eras do pop sem perder de vista o calor contemporâneo

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Ano: 2024
Selo: Republic Records
# Faixas: 13
Estilos: R&B, House, Trap, Pop
Duração: 35'
Produção: Ariana Grande, Max Martin, Ilya, Shintaro Yasuda, Nick Lee, Oscar Görres, Davidior, Luka Kloser, Will Loftis e Aaron Paris

A noção de “diva pop” se transforma conforme os contextos culturais. Seria muito simples assumir que uma categoria que contém nomes como Diana Ross, Madonna, Britney Spears, Dua Lipa e Jessie Ware pudesse definir características comuns a todas. Entretanto, mesmo que a estética sonora de cada uma possa variar de acordo com os significados e relações sociais, uma coisa não muda – divas são autênticas. O pop pode ser pasteurizado, homogêneo e se reciclar repetidamente. Mas divas assumem uma curadoria que questiona essa repetição do pop – cada qual à sua maneira. Esta talvez seja uma das maneiras mais precisas de compreender por que, sob diferentes aspectos, Ariana Grande é uma diva pop contemporânea.

A artista deu os primeiros sinais de que seu trabalho traria um diferencial ao pop quando, no começo dos anos 2010, ela desafiou a sina de atrizes e atores teens que, ao serem descartados pelas emissoras, caem no esquecimento. Demonstrando um imenso talento vocal na série Victorious!, ela se propôs a trazer o de volta o maximalismo e drops de eletrônica ao pop com toques de R&B. Yours Truly (2013) e My Everything (2014) foram as primeiras evidências de que ela tinha um talento inconfundível para o pop radiofônico, mas em Dangerous Woman (2016) vieram referências e pesquisas ainda mais refinadas. Com a consolidação do Tiktok, ela também deixou claro que suas sonoridades conseguiam se comunicar com diferentes gerações – de millennials nostálgicos por Meninas Malvadas a uma Geração Z sedenta por texturas digitais do trap. Em mais de 15 anos de carreira, Ariana construiu uma obra que soube dialogar com diferentes propostas e públicos – feito que parece ser bem resumido em seu novo disco, eternal sunshine

Em seu sétimo álbum, Ariana traz sua expertise do pop em cada canto do disco. De uma perspectiva sonora, eternal sunshine procura se libertar (não totalmente) do nicho trap Gen Z que perpasse seu disco anterior, Positions (2020). Ao invés disso, as faixas percorrem linguagens variadas – do house chique, passando pelo R&B nostálgico que marcou os primeiros registros, até as emocionantes baladas. Para essa pesquisa, ele se reuniu com um time de produtores de primeira (como Max Martin e Oscar Görres), que no lugar de repetirem fórmulas, dão uma espécie de polimento geral dos diferentes momentos da carreira de Ariana. Como toda obra pop, o apelo das letras é indispensável e, neste momento, temos uma compositora muito comprometida com a honestidade, gerando um sentimento de vulnerabilidade ainda mais intenso. É um trabalho inegavelmente pop, mas que parece voar um pouco além de uma experiência radiofônica.

Com a primeira faixa, “intro (end of the world)”, Ariana começa pelo fim do mundo, em uma posição de vulnerabilidade completa, introduzida por acordes densos e quentes de guitarra. Em seguida, “bye” se despede (ou se livra) daquilo que a prendeu por tanto tempo se jogando no groove de um disco revival. A faixa-título do disco tem contornos de trap, porém revestidos com melodias chicletes do R&B. Em seguida, “true story” amplia essa influência para beats e sintetizadores – ressoando a safra americana dos anos 90. O single “yes, and?” retoma o house com nuances do  vogue-popular-90s e o atualiza com uma roupagem mais lustrosa. “i wish i hated you” mistura a sensibilidade de suas letras com melodias que lembram a influência de musicais na carreira de Ariana – principalmente neste momento que ela estará na nova adaptação de Wicked. Por fim, a introspectiva “ordinary things” flerta com trip hop e downtempo, ao mesmo tempo em que imprime uma textura para que seja reproduzido um áudio de sua avó – creditada como feat. na música.

eternal sunshine traz diferentes faces de Ariana Grande, porém todas reunidas sob uma mesma vulnerabilidade – sentimento que permite que a compositora revisite sua própria obra, jogando uma nova luz em suas experiências pessoais e musicais. É possível perceber influências de uma Ariana do eletrônico farofa de 2010, do pop múltiplo de 2015 e até mesmo dos flertes com o trap e Lo-Fi de 2019/21. Mas essas referências chegam iluminadas pelo brilho de uma artista que revisita o passado para existir com firmeza no presente.

(“eternal sunshine” em uma faixa: “true story”)

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ARTISTA: Ariana Grande

Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique