Resenhas

Autre Ne Veut – Age Of Transparency

Músico acaba cainda na armadilha dos conceitos que pretende explorar

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Ano: 2015
Selo: Downtown
# Faixas: 9
Estilos: Eletrônico Experimental, Alt-R&B
Duração: 44:50
Nota: 2.0
Produção: Arthur Ashin

Age Of Transparency, o novo passo na carreira de Arthur Ashin, o artista por trás do projeto Autre Ne Veut, procura misturar extremidades conceituais. Música e performance, estilos clássicos com experimentções contemporâneas, organicidade com manipulações eletrônicas e “honestidade e transparência” com estratégias de venda mercadológicas.

Embora Ashin retire o nome de seu novo trabalho de um jargão de marketing, e, assim, nos dê a entender o incômodo que sente com esse suposto “desvio de caráter” capitalista, o próprio artista acaba caindo na armadilha conceitual dos extremos que propõe explorar.

Age Of Transparency é o segundo passo de uma triologia iniciada em Anxiety, álbum que fez os olhos e ouvidos da crítica se voltarem para Autre Ne Veut. Aqui, temos a mesma manipulação eletrônica obstinada e a mesma crueza e intensidade das perfomances de outrora. A voz rasgada de Ashin mistura picos emocionais encenados com falsetes delicados, enquanto sua base eletrônica mistura glitchs e ruídos com arranjos melódicos de jazz e música clássica.

Todavia, a afetação exagerada que preenche a obra de Ashin a todo momento nos faz questionar a honestidade de seu trabalho artístico. Embora o R&B alternativo de Autre Ne Veut explore de forma muito particular as possibilidades narrativas alternativas de uma música, Ashin afasta o público de sua arte com seu hermetismo performático.

On And On (Reprise), a primeira faixa desse álbum, já exibe com tanta intensidade o universo caótico do artista, que, em sua proposta encavalada e sem cadência, cheia de meros exibicionismos técnicos, acaba tornando a experiência do ouvinte uma jornada exaustiva.

Os excelentes clipes deste trabalho, feitos em parceria com a artista Allie Avital, embora sejam um ponto alto da experiência audiovisual de Age Of Transparency como um todo, também denunciam as mesmas questões entre honestidade e artifício (vejam, por exemplo, a performance propositalmente constrangedora de Panic Room, que acaba exibindo uma postura de humildade vinda de Ashin que é, no fim das contas, meramente encenada).

Os méritos de Autre ne Veut devem ser reforçados: o projeto não se rende a fórmulas prontas, fáceis e consegue erigir um estilo muito particular que, além de tudo, se mostra tecnicamente louvável. Contudo, forçando os limites das possibilidades exploradas, tanto no que diz respeito ao método de composição de Ashin, tanto quanto na recepção emocional de seu público, Arthur Ashin propõe um experimento hermético que quase ultrapassa a linha do egoísmo e, assim, acaba afastando o prazer (sensorial e intelectual) de apreciar a sua obra.

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Autor:

é músico e escreve sobre arte