Resenhas

Beach Fossils – Bunny

Seis anos depois, banda nova-iorquina retorna com arranjos delicados de guitarra, produção imaginativa – e seu provável disco mais pop

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Ano: 2023
Selo: Bayonet Records
# Faixas: 11
Estilos: Indie Rock, Dream Pop
Duração: 37'
Produção: Dustin Payseur

Seis anos separam Bunny, mais recente disco do quarteto norte-americano Beach Fossils, e seu antecessor, Somersault (2017). Os dois registros usam a nostalgia como substrato, mas se mostram diferentes em essência. O anterior foi um salto importante em qualidade de produção e arranjos, mas parece que aqui Dustin Payseur e companhia dão um salto ainda mais impressionante – sem ter que “apelar” para orquestrações ou instrumentações grandiosas.

A banda volta ao básico, quase como se passeasse por sua carreira extraindo alguns elementos dos discos anteriores a fim de trazê-los ao presente sob um novo olhar, agora mais experiente e menos imediatista. De sua obra de estreia (autointitulada e lançada em 2010), o grupo coleta os timbres desbotados de um final de tarde na praia. Aquele tom da onda surf rock, movimento que estava quente quando o quarteto surgiu. Já de Clash The Truth (2013), eles buscam o teor post-punk, principalmente ao estabelecer um diálogo entre guitarras (como em “Dare Me”) ou a bateria mais presente (“Tough Love”). De Somersault, vêm os arranjos delicados e a falta de pressa em criar suas músicas – lembrando bandas como Teenage Fanclub e R.E.M.

De uma perspectiva emocional, o registro também é um avanço, ainda que mantenha certo olhar para trás. Aos 37 anos, Dustin ainda canta, algumas vezes, sobre os mesmos assuntos de 15 anos atrás, porém sob um novo prisma. Amadurecer cobra seu preço e traz consigo uma série de responsabilidades da vida adulta – como o tédio da rotina e, no caso dele, a paternidade. Parte de Bunny fala sobre sair, passear, ficar chapado, mas também sobre ter de lidar com as consequências disso. Em “Dare Me”, ele chega à conclusão: “Kill the cliché for a moment / And I’ll tell it like it is / I think I need more than this”, enquanto tem uma crise de identidade gerada pela vida na estrada.

Mesmo os momentos que seriam puramente divertidos no passado, como “Staying out all night / We’re all taking drugs / Acting stupid, having fun / Till the sun is coming up / Might be too depressed” (“Run to the Moon”), geram no vocalista uma sensação quase agridoce, como se essas experiências por si só não gerassem tanto prazer como antigamente. O mesmo vale para amizades esgarçadas por conta da distância (ou rotina): “This city hasn’t felt the same / Since you moved away, man, we had some days (…) Said something funny but you didn’t hear me / Almost said it again more clearly, but it’s over”. Nesta canção (“Don’t Fade Away”), ele parece encontrar em sua filha uma forma de aplacar essa dor da falta do amigo (ou mesmo perceber que esses momentos nunca mais serão os mesmos).

Bunny talvez seja o disco mais pop e acessível da banda até então, ainda que não seja o mais imediato. Arranjos delicados das guitarras e uma produção imaginativa servem como veículos perfeitos para divagações de Payseur – que olha para o passado com nostalgia, mas, ao mesmo tempo, reflete sobre o presente e o peso dessas memórias. Sem dúvidas, é uma obra que fará ainda mais sentido se você passou dos 30 anos.

(Bunny em uma faixa: “Don’t Fade Away”)

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ARTISTA: Beach Fossils

Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts