Resenhas

Bleachers – Bleachers

No quarto álbum do projeto, Jack Antonoff encarna bom humor irônico e desenvolve aura nostálgica – com uma pose milimetricamente desencanada

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Ano: 2024
Selo: Dirty Hit
# Faixas: 14
Estilos: Indie, Indie Pop
Duração: 48'
Produção: Jack Antonoff e Patrik Berger

Será que nós damos a devida importância ao trabalho autoral de Jack Antonoff? Responsável por muitos dos grandes hits da última década – aquelas músicas que você certamente conhece e, às vezes sem perceber, sabe até cantar o refrão –, ele chega à marca do quarto álbum sob o nome Bleachers com uma musicalidade no mesmo nível de qualidade com que seu trabalho ficou conhecido, mas com certa distância, ou discrição, daquilo que assinou ao lado de gente como Taylor Swift, Sia, St. Vincent, Gary Clark Jr. e até BROCKHAMPTON.

Também chamado Bleachers, o disco deixa na boca um gosto de um trabalho cuja ambição é valorizar o formato de canção radiofônica que Jack, às vésperas de seu 40º aniversário, escutou por toda a juventude. É diferente de outros “álbuns de produtor”, como os de – para usar exemplo de alguém da mesma estatura no pop – Mark Ronson, que quer orquestrar muitos elementos, timbres e sonoridades no estúdio. Há seus momentos grandiosos, mas a obra parece convidar os ouvintes a uma relação mais íntima e pessoal com essas faixas.

Tem muito a ver com Jack trazer Patrik Berger para seu lado na produção de grande parte do disco. Dessa forma, ele tem mais liberdade para se dividir em outras funções, como a de intérprete, enquanto permite que outra pessoa ajude a direcionar suas criações. Pode não significar tanto para o público em geral, mas é como o chef de restaurante que, na hora de abrir seu próprio negócio, convida outro profissional para comandar a cozinha enquanto ele se dedica melhor a apenas um prato ou outro de cada vez, ao passo que os outros cozinheiros e garçons se movimentam pelo espaço. Ou seja, é uma escolha do que focar, mas também uma espécie de exercício de humildade.

Várias composições são também assinadas em parceria, como Lana Del Rey e Florence Welch (+ The Machine), que aparecem em suas respectivas faixas (“Alma Mater” e “Self Respect”, talvez a melhor do álbum). O que fica da maneira como ele canta, ou como os instrumentos muitas vezes dão lugar à voz com cuidado para que prestemos atenção nos versos, é o grau de pessoalidade que essas canções trazem. É a crescente constante em “Modern Girl”, por exemplo, que dá lugar também a momentos de respiro sem a letra, para ela voltar com tudo – e nossa atenção acompanhar todo esse movimento.

E aí que Bleachers é tanto Jack Antonoff como intérprete, quanto como produtor. Ele é vibes, ele é aesthetics, ele é um cara que sabe se comunicar com nossos dias e com os padrões de audição musical de grande parte do mundo. O álbum é cheio de uma pose milimetricamente desencanada, com um bom humor irônico e essa aura nostálgica que é sempre tão contemporânea. É a reunião de tantas qualidades que ele já colocou em seu trabalho com outros músicos, mas com aquela vontade de fingir que nada disso é planejado.

Por fim, vale interpretar o nome do disco. Batizá-lo como Bleachers, a essa altura da discografia, é redirecionar nossas expectativas para mais músicas assim daqui para frente, cada vez mais distantes da ambição de grandes hits (não se pode perder de vista que ele estava por trás da gigantesca “We Are Young”, que lançou com sua outra banda, .fun). Jack parece estar se divertindo e, ainda por cima, cumprindo todas as suas ambições artísticas no meio do caminho. No entendimento de que seu trabalho como produtor dos outros já garantiu seu lugar na história, Bleachers é a celebração disso.

(Bleachers em uma faixa: “Modern Girl”)

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BOM PARA QUEM OUVE: Bleachers

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.