Bruno Berle é um andarilho na verdadeira raiz da palavra. Desde sua estreia lá em 2014, com o singelo e profundo Arapiraca, Maceió, 2013, ficou evidente que Bruno já havia percorrido certas estradas antes de formalizar aquele primeiro disco – e isto não é uma referência exatamente a distâncias físicas. O alagoano é um andarilho que percorre diferentes entendimentos e significados da canção, atento a pequenos microcosmos de seu imaginário. Junto da experiência adquirida por meio de bandas como Troco em Bala, o cantor, músico e compositor demonstrou que suas canções têm como característica marcante a criação de um lugar confortável para viajar e se refugiar.
Em No Reino dos Afetos, Bruno nos apresenta uma metáfora que explica de onde vem essa inspiração para cultivar canções tão acolhedoras. Sua forma de compor lida com várias formas de afeto, simultâneas e multidirecionais e, neste Reino, percebemos quanto essa matéria-prima é capaz de ampliar a perspectiva musical. Aqui, o compositor alagoano não se limita se une ao produtor Batata Boy em uma investigação estética que transita por indie, bedroom pop, Lo-Fi, toques de hip hop e MPB. É curioso como, mesmo se arriscando por gêneros mais pautados na música eletrônica, Bruno ainda é capaz de entregar o mesmo nível de conforto daquelas canções acústicas de 2014.
Em cada momento do disco há uma proposta diferente, ainda que amarrada por uma mesma atmosfera. Mais do que a quantidade de afetos, existem qualidades de afetos que rodeiam uma canção. A faixa inicial, “Até Meu Violão”, por exemplo, encarna um sentimento de amor tropical sob roupagem indie, algo como a encruzilhada entre Devendra Banhart, Rodrigo Amarante e acordes ensolarados de João Donato. Já o single “Quero Dizer” mostra como a levada Lo-Fi hip hop pode criar espaço para um canção encorpada, honesta e irresistível. “Som Nyame” coloca essa singeleza a favor do high life – gênero musical oriundo do oeste do continente africano, e “Só Nós Dois” aproveita os barulhos e ruídos de baixa fidelidade para percorrer caminhos psicodélicos. Nos despedimos do repertório com “É Preciso Ter Amor”, um hino otimista que persegue novos afetos e novos reinos.
Em um misto de mixtape Lo-Fi com cancioneiro popular brasileiro, Bruno Berle vai muito além de voz & violão para entregar conforto, acolhimento e, como o título anuncia, afeto. Reino Dos Afetos é um disco que une, com coesão, linguagens diferentes em prol do tipo de música que nos abraça.
(No Reino Dos Afetos em uma faixa: “É Preciso Ter Amor”)
