Resenhas

Buck Meek – Two Saviors

Com voz particular, integrante do Big Thief apresenta Indie Folk honesto e carismático

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Ano: 2021
Selo: Keeled Scales/Kobalt
# Faixas: 11
Estilos: Folk, Indie Folk
Duração: 36'

É difícil entender qual a primeira impressão a respeito da música de Buck Meek, já que as qualidades apresentadas em seu trabalho podem ser, ao menos na superfície, conflitantes. Logo que você começa a ouvir Two Saviors, percebe o quanto seus arranjos são bem lapidados para servirem como base a uma interpretação vocal peculiar, que encontra uma afinação sempre muito particular. É difícil entender se você gosta ou não, ou mesmo o quanto – ou se – aquilo que ouvimos é cheio de qualidades ou não. Aceitar seu convite para se deixar levar por suas músicas é, entretanto, uma fonte abastada para os mais sinceros sorrisos.

Esse estranhamento imediato não é a mesma impressão que se tem de sua banda, Big Thief, até porque os vocais de Adrianne Lenker possuem características muito distintas das de Meek. Dotado de um carregado, e quase caricato, sotaque texano, ele canta com a voz fraquejante sem lá grande alcance de notas ou de volume. Para além de tudo isso, seu timbre anasalado abraça um leve grau de esquisitice e, mesmo assim – ou justamente por isso –, se mostra curiosamente carismático. E isso interfere não só na maneira com que apreciamos sua música, mas também nos significados que percebemos nela.

O vocal expressa uma enorme vulnerabilidade do músico do primeiro acorde à última sílaba, e somos lembrados que a sensibilidade é mais palpável nas imperfeições. A estética de todo o álbum poderia ser descrita como “honesta”: Se o som transita entre as vertentes do Folk, Indie e Rock, o que mais confere identidade à obra é um ou outro ruído na gravação, como o chiado do microfone facilmente percebido nas faixas menos volumosas. Junto à voz fraquejante, que nem sempre encontra a métrica da canção, esse conjunto de qualidades tem grande importância na fruição de sua música.

As narrativas que Meek canta trazem um eu-lírico masculino que foge à tradição do que isso significa. Ele não é uma figura forte e invencível, mas um indivíduo sonhador, que pensa no passado com carinho e se vê indefeso frente à morte. É diferente do que muitos podem esperar de um homem, ainda mais sob algum estereótipo de cowboy texano. E é um verdadeiro deleite encontrar um músico que traz sua vulnerabilidade à frente de si, principalmente em composições tão bonitas como estas.

Talvez o estranhamento com sua voz nunca passe por completo, mas isso logo se faz irrelevante ao ouvirmos Two Saviors. É um disco de várias surpresas no decorrer de seu repertório e na maneira como ele reverbera no ouvinte, e sua experiência ganha ainda o bônus de Meek ter guardado as melhores músicas para o fim – a sequência final é de fazer qualquer brutamontes fechar os olhos com a mão no peito. Uma pequena grande obra de personalidade à altura e carisma de sobra.

(Two Saviors em uma faixa: “Candle”)

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ARTISTA: Buck Meek

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.