Resenhas

Carly Rae Jepsen – The Loneliest Time

Sexto disco da artista canadense compila elementos de diferentes eras em um grande caldeirão pop atemporal

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Ano: 2022
Selo: 604, School e BoyInterscope
# Faixas: 13
Estilos: Synthpop, Pop
Duração: 54'
Produção: Rostam Batmanglij, Patrik Berger, Bullion, Captain Cuts, Max Hershenow, John Hill, Alex Hope, Oliver Lundström, Luke Niccoli, Jordan Palmer, Imad Royal, SameSame, Kyle Shearer e Solomonophonic

Entre as recentes divas do pop – do mainstream ao alternativo -, a canadense Carly Rae Jepsen tem um diferencial: ela desafia a estrutura dos gêneros musicais – e permanece pop. Tudo começou em 2012, com o massivo  hit, “Call My Maybe”, uma canção que concentrava em seu refrão o que há de mais chiclete aliado a um arranjo electropop , além de um divertido clipe, perfeito para viralizar durante o momento que a internet aumentava sua velocidade.  Após este tremendo sucesso, proveniente de seu segundo disco, Kiss, Carly caiu em uma espécie de limbo, comum a tantos artistas de um hit só. Entretanto, as coisas não rumaram nessa direção quando, em 2015, o disco Emotion foi lançado trazendo uma nova personalidade. O electropop cedeu lugar ao synthpop, com melodias pegajosas e atmosfera revival contagiante

Carly conseguiu se desvencilhar de um estereótipo nocivo do pop, reafirmando a qualidade musical de sua obra. Depois de Emotion, ela permaneceu nesta zona em Dedicated, que manteve a qualidade do antecessor. Agora, ela parece assumir uma postura de reflexão a respeito de sua discografia – reconhecendo pontos fundamentais de sua carreira e entendendo como leva-los à frente, como acontece em The Lonelist Time. Sempre antenada a tendências da indústria, Carly fez deste momento o seu refúgio da quarentena. É um daqueles trabalhos em que artistas, sob lockdown, tiveram um boom criativo. Como o título anuncia, é um período de solidão e, naturalmente, o momento ideal para repassar tudo o que já foi criado até aqui. Carly traz de cada disco um elemento para ressaltar – do pop pegajoso à vulnerabilidade. Assim, o repertório soa tão franco quanto dançante, em 15 canções que exploram cacoetes do pop sem abrir mão da autenticidade.

O disco se inicia deixando claro que os anos 80 sempre terão um lugar no coração de Carly. As harmonias de “Surrender My Heart” apontam para referências como Robyn e Fleetwood Mac, e “Taking to Yourself” é uma aula de como elaborar um gancho eficaz – aquele momento que eleva nossa expectativa ao extremo, antes da explosão no refrão dançante. “Far Away” se afasta da pista de dança rumo ao canto escuro da festa – quando a saudade aperta e um celular com crédito é um perigo. Há momentos em que Carly consegue dosar bem os diferentes momentos, especialmente em “Bends”, uma espécie de balada futurista minimalista, tão dançante quanto relaxante. “Bad Thing Twice” é a típica música de makeover de filme americano, com timbres cristalinos e um baixo potente no suingue.  Para encerrar, Carly se junta a Rufus Wainwright para entregar um dueto feito no melhor estilo “Don´t Go Breaking My Heart”, repletos de arranjos de cordas dos anos dourados.

Em The Loneliest Time, Carly Rae Jepsen não insere necessariamente novos elementos em sua obra, mas seus caminhos sonoros parecem ter mudado durante a quarentena. Ela passa por vias mais distantes de perspectivas radiofônicas e entrega um disco que, mesmo dentro da zona de conforto da cantora, soa mais polido – e igualmente dançante.

(The Loneliest Time em uma faixa: “Talking to Yourself”)

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Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique