Resenhas

Castello Branco – Niska: Uma Mensagem para os Tempos de Emergência

Quarto disco do músico carioca traz sua identidade subjetiva e afetuosa e, ao mesmo tempo, amplia a proposta Pop contemporânea de projetos anteriores

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Ano: 2021
Selo: Independente
# Faixas: 9
Estilos: Pop, MPB
Duração: 31'

Poucas discografias na música brasileira atual carregam tanta identidade quanto a obra de Castello Branco. Se algumas delas se amparam unicamente em uma estética muito referencial, o músico do Rio de Janeiro traz para seu trabalho muito mais do que um som próprio, mas também uma mensagem já estabelecida e – para além disso – todo um jeitinho de fazer música que reconhecemos como dele.

A impressão é a de que ele compõe e grava com letras, vozes e instrumentos, mas também com uma grande dose de afeto. É indissociável de sua música aquela característica subjetiva que tanto compõe sua identidade, em paralelo com o teor espiritual que muitas de suas canções têm. Se é difícil exprimir isso em palavras, a compreensão se faz instantânea ao escutar qualquer um de seus discos.

Niska: Uma Mensagem para os Tempos de Emergência é seu primeiro lançamento depois da trilogia Serviço (2013), Sintoma (2017) e Sermão (2019), e a obra mostra suas diferenças em relação às suas anteriores com grande naturalidade. Há, por exemplo, vários duetos logo na primeira metade do álbum (com Mahmundi, Lazúli, Rubel e Duda Beat, nessa ordem), o que imediatamente transporta Niska a um novo momento na obra de Castello.

Se a música com Rubel (“Criançada”) lembra muito o momento em que conhecemos os dois, com o que eles faziam ali em 2013, o som com Duda Beat (que, não por acaso, é uma voz que ouvimos pela primeira vez em sua “Céu da Boca”, do mesmo ano) revela uma inserção maior de Castello no cenário da música Pop de cunhos brasileiro e contemporâneo (nessa ordem). Era algo que já ecoava em Sermão e que ele abraçou com maior propriedade – e ambições melhores ajustadas – neste seu quarto disco.

Há ecos também de outro estilo comum na música brasileira, a psicodelia, em alguns momentos do disco – como “Pode Apostar” e “Maracanã”. São pistas também de que o músico segue em diálogo com a produção independente e a cena que o abraçou inicialmente, quando começou sua carreira solo. A sonoridade de todo o disco, do single “4/4” à instrumental “Kikuchi”, aproveita de uma espacialidade semelhante à de Sintoma, talvez seu álbum mais em sintonia com o lado mais autoral, quase experimental, do Indie brasileiro.

Fica difícil tentar prever para onde Castello Branco vai daqui, se seguirá em trânsito entre o mais e o menos Pop ou se investirá em uma terceira direção. O que não deve mudar – e isso nem sempre é possível afirmar – é que sua música deve seguir sua identidade de ser mais do que som. Suas canções e discos, como Niska prova, são doçura, são carinho, são abraços.

(Niska: Uma Mensagem para Tempos de Emergência em uma faixa: “4/4”)

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Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.