Resenhas

CHAI – CHAI

Em quarto álbum, grupo japonês aprimora ainda mais sua mistura sonora e oferece discussões interessantes – sem deixar de fazer dançar

Loading

Ano: 2023
Selo: Sub Pop
# Faixas: 10
Estilos: Rock, Pop, CIty Pop
Duração: 29'
Produção: Ryu Takahashi

Desde seu primeiro registro (PINK, de 2017), o quarteto japonês CHAI desenvolve uma fusão entre punk e pop, brincando também com rap, música eletrônica e city pop. Em seu quarto álbum, autointitulado, Mana, Kana, Yuuki e Yuna aperfeiçoam ainda mais sua alquimia musical para gerar uma nova pérola pop cheia de autenticidade e diversão.

As quatro garotas buscam boa parte de suas inspirações nos anos 1980, seja no próprio pop japonês (mais especificamente no city pop) ou no synth pop norte-americano (boa parte vindo também da new wave) – inclusive, essa mescla entre oriente e ocidente se mostra também base para algumas letras da obra. Faixas como “MATCHA” e “PARA PARA” são bons exemplos dessa mistura, com passeios por gêneros como R&B, jazz e disco sem necessariamente se apegar a nenhum deles ou torná-los sua espinha dorsal. São elementos estéticos que criam uma rica experiência sonora que é ao mesmo tempo retrô e atual.

Essa mistura toda serve como pano de fundo para letras que trazem algumas discussões interessantes. Talvez a mais direta delas venha em “NEO KAWAII, K?”, que propõe uma nova forma de socialização feminina, rejeitando normas de beleza impostas às mulheres, bem como uma série de costumes e padrões – sejam vindas das tradições orientais ou das ocidentais. “We The Female!” é outra canção que aborda essa temática, anunciando um feminismo mais inclusivo, quase como Riot Girl mais colorido e cheio de sintetizadores.

Para além dessas discussões, a banda ainda fala sobre o processo de envelhecer (“From 1992”) – com versos que vão de “Every minute we age/ More wrinkles than yesterday” a “But that’s all right (…) I was a lot more mature than I knew” –; sobre as cidades que visitaram em turnê (“Driving22”) e ainda sobre não conseguir organizar a própria casa e viver num ambiente um pouco caótico (em “I Can’t Organizeeee”). Há também faixas que fazem conexão direta com a cultura japonesa: “MATCHA”, “PARA PARA”, “NEO KAWAII, K?” e “KARAOKE” são títulos que evocam diretamente diferentes aspectos e imagens tipicamente nipônicas, desde uma dança dos anos 1990 até um chá popular no país.

De essência pop e espírito contestador, CHAI nos leva a um mundo em que o caos é contido e cor de rosa. É um disco que consegue ser kwai (fofo), mas também subversivo. São discussões importantes, que trazem reflexões interessantes – e que, ainda assim, nos fazem dançar.

(CHAI em uma faixa: “NEO KAWAII, K?”)

Loading

ARTISTA: CHAI

Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts