Resenhas

Cigarettes After Sex – Cry

Grupo liderado por Greg Gonzalez continua com sua sonoridade lânguida, cantando sobre desejo e sexualidade

Loading

Ano: 2019
Selo: Partisan
# Faixas: 9
Estilos: Dream Pop
Duração: 40'
Produção: Greg Gonzalez

Cry é o segundo álbum de Cigarettes After Sex, banda do Brooklyn liderada por Greg Gonzales, sujeito que assume os cargos de compositor, vocalista, guitarrista e produtor do grupo. O trabalho dá sequência à temática introduzida pelo disco de estreia, Cigarettes After Sex (2017). Ou seja, ainda fazendo jus ao seu nome, a banda constrói canções lânguidas, para serem ouvidas à meia luz e que falam sobre sexo. 

O LP foi gravado majoritariamente na ilha de Mallorca, com exceção das faixas “Don’t Let me Go” e “Touch”, concebidas em Berlim. De acordo com Gonzales, Cry foi “inspirado por um pôr do sol avassalador” que ele presenciou na Letônia. No entanto, apesar de sua intenção inicial, o álbum foge das paisagens paradisíacas e ensolaradas para construir uma narrativa que acontece dentro de um cômodo com as cortinas fechadas. De fato, sua capa mostra o oceano, mas o tom é escuro, chuvoso, e evoca uma espécie de transbordamento, causada por uma melancolia em excesso.

As faixas em Cry são bastante assertivas, simples e acessíveis. A voz tenor de Gonzales protagoniza uma produção que soa sempre agradável, marcada por uma névoa de sintetizadores que torna tudo macio. Traços de The Cure podem ser aferidos aqui e ali, dada a simplicidade dos arranjos de guitarra, assim como uma inspiração de Twin Peaks, por conta do clima temperamental, dominado por uma aura misteriosa. 

Para além dessas influências, os arranjos denunciam uma inspiração vinda dos anos 1990. E não apenas por conta de seu apelo radiofônico, mas pela visão de mundo e sexualidade atrasada, que fetichiza a libido, e em especial a imagem da mulher. O título do disco, por exemplo, provoca uma associação no mínimo questionável entre os atos de chorar e o sexual, revelando um trabalho que não fala necessariamente sobre a intimidade, mas sobre a falta dela. 

A sonoridade de Cry é fiel ao que já conhecíamos do grupo. Onírica, relaxante, como se as imagens suscitadas pelo disco fossem parte de um sonho erótico. De acordo com Gonzalez, esse disco pode ser visto como um filme: “filmado num local exótico e deslumbrante, e que une todos esses personagens e cenas diferentes, mas no final é sobre romance, beleza e sexualidade”. De fato, há algo de exótico por aqui, mas não apenas a geografia que serviu de inspiração ao compositor. Apesar de sua estética agradável, a própria ideia de sexualidade construída no disco revela o seu ponto fraco, já que advém do mundo da fantasia, mais ou menos pornográfica, e carece de complexidade.

(Cry em uma música: “Touch”)

Loading

MARCADORES: Dream Pop

Autor:

é músico e escreve sobre arte