Resenhas

Death Cab For Cutie – Asphalt Meadows

Aconchegante e intenso, 10º disco da banda americana retoma origens sem apelar demais para a nostalgia

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Ano: 2022
Selo: Atlantic Recordings
# Faixas: 11
Estilos: Indie Rock, Dream Pop
Duração: 42'
Produção: John Congleton

É difícil posicionar certas bandas dentro do múltiplo mundo dos gêneros e subgêneros musicais. Mas, se tivéssemos que escolher um lugar para o Death Cab For Cutie, o grupo estaria entre o indie, o emo ou o rock alternativo. Ainda que consagrada como uma dos nomes mais influentes do indie, a banda acabou surfando (e muito) na onda emo do início dos anos 2000 – o que resultou em uma sonoridade, ao mesmo tempo, introspectiva e enérgica. E os melhores momentos do grupo aparecem justamente quando o indie e o emo estão em diálogo constante.

Considerado por muitos o ápice da banda, o disco Transatlanticism (2003) mostra bem como isso se dá na prática – se libertando das progressões típicas de power chords do emo, mas também sem levar a coisa para um lado mais estridente do indie. Há tanto a melancolia do primeiro, quando a receptividade a novos elementos do segundo – sintetizadores, acordes esquisitões e texturas etéreas. Ainda assim, as letras da banda (quase sempre autoria do vocalista e guitarrista Ben Gibbard e do ex-guitarrista Chris Walla) rondam um mesmo espectro: o cotidiano, discreto ou extravagante. As inspirações vêm de qualquer coisa – de um parque abandonado em Coney Island a um incêndio de um vinhedo. Quando o cotidiano se soma à catarse emo/indie, não há quem possa parar o Death Cab.

O décimo trabalho, Asphalt Meadows, parece retomar um espírito do período germinal do grupo, quando as paredes dos gêneros estavam mais porosas. Entretanto, este não é um trabalho focado na nostalgia. A atmosfera melancólica e comovente cresce para lados diferentes, e o tom atmosférico de Transatlanticism abre espaço para distorções e glitches mais intensos. Há ainda alguma nuance dream pop, o que afasta a pegada ruidosa do underground.

No balanço e no suingue, a banda já começa com uma pedrada. “I Don’t Know How I Survive” fala de batalhas difíceis e vem munida de guitarras sujas e distorcidas com melodias típicas da banda. A faixa que dá nome ao disco tem uma estrutura de canção pop, mas é preenchida pelo indie de guitarras chiclete, e “Here To Forever” se acomoda no dream pop da maneira mais Death Cab possível. Entre as grandes canções do disco, “Foxglove Through The Clearcut” coloca o spoken word em contato com a face mais explosiva da banda; e “Wheat Like Waves” retoma os riffs abertos do emo, aos moldes de discos como The Photo Album (2001). Para finalizar, a otimista “I II Never Give Up On You” soa como uma versão mais intensa do “novo Death Cab” – e vem embalada pelas metáforas precisas de Ben Gibbard

Aconchegante e intenso, Asphalt Meadows é o 10º disco do Death Cab For Cutie – número simbólico e que, muitas vezes, representa o momento de rever uma trajetória. Aqui, os veteranos caminham para novos lugares, mas trazem suas origens debaixo dos braços. E o resultado é um trabalho superior aos discos recentes do grupo – especialmente por conta do resgate de um espírito catártico, que andava em falta.

(Asphalt Meadows em uma faixa: “Foxglove Through The Clearcut”)

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Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique