Resenhas

Dorian Electra – Flamboyant

Contra o fundamentalismo heteronormativo, o álbum constrói uma poética do exagero e diverte com auxílio da auto-paródia em registro hiperbólico

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Ano: 2019
Selo: Independente
# Faixas: 11
Estilos: Pop Eletrônico
Duração: 31'
Produção: Robokid, Will Vaughan, Dylan Brady, Socialchair, Absrdst

Se considerarmos que masculino e feminino são dois extremos opostos dentro de um espectro de identidades de gênero, Dorian Electra é uma pessoa que faz questão de passear por entre esses pólos. Isso porque, por ser gênero fluído, Electra traz esse tema para o centro de todas as suas composições, usando o exagero como forma de humor para passar ‒ e ultrapassar ‒ a sua mensagem.

Flamboyant é seu primeiro álbum completo e apresenta uma produção sobrecarregada, guiada pelo Pop Eletrônico. O nome ao álbum é uma apropriação de um termo que pode ser usado de forma pejorativa contra uma pessoa queer que não se comporta de maneira discreta. Aqui, Dorian Electra tenta resgatar a expressão, atribuindo-a uma acepção positiva.

Figuras como a do rei francês Luís XIV, do pianista Liberace ou do personagem Austin Powers são inspirações. Quanto à este último, Electra declarou: “eu tinha 6 anos quando assisti esse filme e ele se tornou meu favorito. Eu não entendi a piada de que ele deveria ser nojento, eu apenas pensei que Austin Powers era esse protagonista sexy. Esse se tornou meu ideal masculino”. O objetivo da performance então é construir uma estética ostensiva, de roupas bufantes e maquiagem sobrecarregada, emulando a versão de alguém barroco, dividido entre o tosco e o dândi. 

Recentemente, Electra colaborou com Charli XCX na mixtape Pop 2 (2017). O universo do Pop mainstream, Eletrônico, é uma óbvia inspiração. As músicas, sempre hiperativas, e engraçadas justamente pela quantidade absurda de elementos que apresentam, fazem lembrar o mundo plastificado de Aqua, o escracho de Peaches e os tons dramáticos de Caroline Polachek em sua fase mais recente.

O humor não é apenas uma referência, mas uma arma central de todas as canções. O termo em inglês para essa linguagem é “camp”, e diz respeito a uma teatralidade que, se por um lado é excessiva, de outro ocupa à força um espaço de poder, antes negado a algumas pessoas. Contra o fundamentalismo heteronormativo, Flamboyant constrói a poética do exagero e da auto-paródia em um disco divertido e hiperbólico.

(Flamboyant em uma música: “Musical Genius”)

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MARCADORES: Pop Eletrônico

Autor:

é músico e escreve sobre arte