Resenhas

Erika de Casier – Still

No meio do caminho entre o pop e o alternativo, novo disco da cantora é mais envolvente quando abraça a face intimista do R&B

Loading

Ano: 2024
Selo: 4AD
# Faixas: 14
Estilos: R&B
Duração: 43'
Produção: Erika de Caiser, Natal Zaks e Nick León

Ela tinha um sonho: fazer um disco de R&B aos moldes do som que formou gerações entre as décadas de 1990 e 2000. Erika de Casier já realizou sua ambição duas vezes, com o álbum de estreia Essentials (2019) e em Sensational (2021). Não satisfeita, ela coloca no mundo Still, um trabalho que se aproveita de seu repertório nesse ambiente para explorar, com enorme qualidade de produção, algumas nuances do estilo que sempre escutou e, nos últimos anos, pôde reproduzir.

Há uma nítida vontade de experimentar, com algumas faixas flertando com um aspecto mais minimalista – ao menos dentro dos moldes do R&B –, e outras se abrindo para estéticas contemporâneas, próximas até de um pop latino. E é aí que a fusão do som de décadas atrás com intenções de algo mais atual corre o risco de perder público, principalmente o letrado na música que o disco referencia.

Erika parece mirar mais no R&B de nomes como TLC, Destiny’s Child, Brandy e Monica, que sempre trabalharam um som mais pop, de aspecto quase eletrônico, do que o feito por Erykah Badu, Lauryn Hill ou Jill Scott – de uma linhagem mais próxima do jazz, soul e do rap. Ou seja, ela mirou nas canções do “Top 10” e ativou o modus operandi de músicos que atuam de forma bem diferente. Em outras palavras, Still não nos entrega canções de refrãos como os daquela época e tenta se apoiar em faixas um pouco mais “alternativas”, na falta de uma palavra melhor, mas sem perder aquela cara do que poderia ser um hit. Em meio a uma produção de tanta excelência, o álbum deixa a impressão, em muitos momentos, de ser uma obra “oca”.

Isso porque as canções nunca decolam a mais de meio metro do chão, apenas apontam a uma direção e não percorrem todo o caminho. “Lucky”, single principal do álbum, até consegue cumprir o que promete, mas faixas como “ooh” empolgam muito menos do que gostariam e, pior ainda, acabam meio chatinhas. É um disco legalzinho, morninho e sempre diminutivo. Erika acerta em cheio quando volta nossa atenção para músicas de cunho mais intimistas, como “Anxious” e “The Princess”, que nos convidam a contemplar versos bastante pessoais da artista. A escolha dos convidados também foi certeira: They Hate Change, Shygirl e Blood Orange adicionam algum peso, mas as demais raramente empolgam para um repeat – e atravessar o prelúdio (tão desnecessário) “Right This Way”, que começa o disco com “welcome, it’s gonna be a lot of fun”, é sempre lembrar que o repertório não cumpre muito bem o que promete.

Quem, assim como Erika de Caiser, é fã daquele R&B dificilmente se deixará levar pelo disco como um todo. Poderá se impressionar com a produção aqui e ali, ou com a escolha certeira de um ou outro timbre, mas talvez fique com a sensação de uma experiência incompleta de músicas, depois de dois discos que atingiram seus objetivos de forma muito mais interessante.

(Still em uma faixa: “ooh”)

Loading

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.